sábado, 26 de maio de 2012

"1943, Roosevelt e Vargas em Natal", Roberto Muylaert


Não é bem um livro de jornalismo, mas foi escrito por um jornalista conceituado e trechos que destaco na resenha publicada hoje no caderno "Ilustrada" da Folha justificam o investimento, principalmente para quem gosta de história. E Jornalista tem que gostar de história.

CRÍTICA / HISTÓRIA
Livro sobre reunião entre Vargas e Roosevelt vale pelo pitoresco
OSCAR PILAGALLO*
ESPECIAL PARA A FOLHA

O jornalista Roberto Muylaert transformou em livro uma nota de rodapé da história. A obra trata do encontro entre os presidentes Franklin Roosevelt, dos EUA, e Getúlio Vargas, na base aérea americana de Natal em 28 de janeiro de 1943.

Apesar de ter servido à propaganda da ditadura do Estado Novo, o encontro em plena Segunda Guerra teve pouca relevância para o conflito e para o Brasil.

O ponto de inflexão por que passava a guerra estava distante do Nordeste brasileiro. Roosevelt vinha de uma reunião com Churchill, primeiro-ministro britânico, em que eles haviam afinado a estratégia das Forças Aliadas. E, poucos dias depois da visita, o Exército soviético derrotaria os nazistas na batalha de Stalingrado. Foram esses os eventos decisivos.

A reunião de Natal também teve pouca importância para o Brasil. Nenhuma decisão foi tomada na base, que, aliás, já servia de escala aos aviões americanos que levavam suprimentos ao norte da África.
O livro levanta um aspecto pouco explorado pela historiografia: em troca do envio de soldados brasileiros à guerra, Roosevelt acenou com um papel que o país teria na futura ONU, "com um possível assento no Conselho de Segurança".

Tal filão, porém, é pouco explorado pelo autor, o que impõe uma pergunta: por que Roosevelt tentou seduzir Vargas a aceitar uma proposta que não era do interesse das Forças Armadas americanas? Pelo que se sabe, a iniciativa de enviar tropas à guerra já era defendida pelo próprio Vargas antes do encontro.

O melhor de "1943" são os "casos pitorescos". O contingente de 5.000 soldados americanos mudou o cotidiano da cidade. Foi lá que o Brasil conheceu a Coca-Cola, o chiclete e a cerveja em lata.

O autor gasta muita munição para derrubar mitos locais, como a crença de que os aviões saíam de Natal para combater na África e depois retornavam à base.

A narrativa é interrompida, com uma inesperada mudança de foco, que passa a ser a história da alemã casada com um filho de Getúlio, sobre a qual recaía a suspeita de ser espiã nazista.

Desconectada do encontro de Natal, a história, no entanto, vale por si -um caso de digressão transformada em bônus.

* OSCAR PILAGALLO, jornalista, é autor de "História da Imprensa Paulista" (Três Estrelas).


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