domingo, 19 de novembro de 2017

"Biografia da televisão brasileira", Flávio Ricco e José Armando Vannucci



Tinha visto e folheado esse livro na Cultura de São Paulo. Ainda não comprei porque são dois volumes e caros pra cacete. Mas a resenha do Mauricio Stycer na Folha de hoje coçou minha mão.
Aqui:
"Das oito principais emissoras de TV nascidas nas primeiras duas décadas da televisão no Brasil, quatro quebraram, duas foram vendidas e duas permanecem, até hoje, com seus donos originais.
Os quatro canais pioneiros que não estão mais entre nós são Tupi (1950-80), Rio (1955-77), Continental (1959-72) e Excelsior (1960-70). A Paulista (1952-67) foi comprada pela Globo. Já a Record, nascida em 1953, foi vendida em 1989 pela família Machado de Carvalho para Edir Macedo. Globo, inaugurada em 1965, e Band, em 1967, permanecem como negócios das mesmas famílias que as criaram.
A contribuição destes "desbravadores", sobretudo a dos que ficaram pelo caminho, é um dos grandes atrativos de "Biografia da Televisão Brasileira", de Flávio Ricco e José Armando Vannucci (Matrix, 928 págs., R$ 99,90).
O projeto, ambicioso, consumiu anos de trabalho e centenas de entrevistas. Ricco, experiente e respeitado colunista do UOL, e Vanucci, jornalista da área, hoje roteirista do "Domingão do Faustão", optaram por uma reconstituição com base na memória dos protagonistas.
Ainda que não se aprofundem, os autores esboçam alguns temas importantes ao descreverem a derrocada dos pioneiros da TV brasileira: gestão amadora e centralizada das emissoras, falta de foco e desconhecimento geral sobre o mercado, além da pressão e a influência de diferentes governos, tanto em períodos democráticos quanto na ditadura.
Mesmo que um dos propósitos do livro seja o de festejar as glórias do passado, acredito que investigar o que deu errado ajuda a entender a TV realizada hoje no país.
A opção por uma "biografia" e não uma "história" da televisão, creio, justifica algumas escolhas.
O livro, por exemplo, deixa de lado uma vasta bibliografia sobre o assunto para se concentrar em uma infinidade de historietas, causos e anedotas sobre os bastidores do mundo da TV.
Esta falta de diálogo com pesquisas acadêmicas, biografias e livros de memórias, por um lado, empobrece e deixa sem contextualização assuntos que já foram tratados em outras obras, com detalhes e informações diferentes, inclusive.
Para citar um entre muitos exemplos, a criação do "Jornal Nacional", em 1969, é objeto de inúmeras versões conflitantes, o que é ignorado pelo relato edulcorado de "Biografia da Televisão Brasileira".
Por outro lado, o projeto oferece leitura agradável e divertida a um público mais jovem e pouco informado. E também a quem conhece a história da televisão em linhas gerais, mas ignora os seus detalhes.
Por razões óbvias, os autores dedicam especial atenção à Globo (líder de mercado desde a década de 1970) e às telenovelas —o gênero ocupa nove dos 54 capítulos do livro. Outros gêneros, como humor, infantil, música e minisséries, por exemplo, têm direito a apenas um capítulo cada.
O ponto alto de "Biografia da Televisão Brasileira", na minha opinião, é o capítulo dedicado ao SBT. O texto dispensa depoimentos repetitivos e traça um retrato esclarecedor sobre o dono e o seu canal. O livro fica devendo, porém, uma abordagem mais aprofundada sobre a Record dos últimos 25 anos.
Um projeto desta envergadura merecia uma revisão mais cuidadosa, que eliminasse repetições e redundâncias. Uma introdução ou apresentação, ausentes no livro, ajudariam o leitor a navegar mais orientado pelos dois volumes e quase mil páginas do projeto. Um índice onomástico, igualmente, seria muito útil. Mas nada tira o mérito deste trabalho exaustivo e muito rico sobre a TV feita no país. "