segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

"O chalé da memória", Tony Judt


Não é um livro de jornalismo ou sobre o jornalismo, mas é um livraço. Deliciosas 222 páginas. Judt foi um baita historiador, autor do clássico "Pós-Guerra". Vale a pena conferir. Para saber mais, clique aqui.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

"Entre sem bater - A vida de Apparício Torelly, o Barão de Itararé", Cláudio Figueiredo


Li em dois dias, no Natal, as maravilhosas 479 páginas desse livraço dessa figuraça conhecida como Barão de Itararé. Leiam já.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

"Chaplin e outros ensaios", Carlos Heitor Cony


Não é bem um livro de Jornalismo, mas é Cony. E Cony dispensa apresentação. Li quase todos os livros dele, sempre que posso leia sua coluna na Folha e começo a ler este. Aula de escrita, como sempre. Para saber mais, clique aqui.

"Entre sem bater - A vida de Apparício Torelly, o Barão de Itararé", Cláudio Figueiredo


Já está separadinho para ler. Recebi, dei uma espiadinha e gostei. Escrever sobre o Barão não tem erro.

Pra saber mais detalhes, clique aqui.

sábado, 1 de dezembro de 2012

"Irineu Marinho - Imprensa e Cidade", de Maria Alice Rezende de Carvalho. Resenha de Paulo Cezar Guimarães no Globo


Escrevi para o caderno "Prosa & Verso" a resenha do livro "Irineu Marinho - Imprensa e Cidade", de Maria Alice Rezende de Carvalho. Livraço.


Para ler a resenha no blog do caderno "Prosa & Verso", clique aqui.

Para saber detalhes e comprar o livro, clique aqui.

sábado, 24 de novembro de 2012

Livro sobre Irineu Marinho será lançado na quinta-feira, dia 29


Estou lendo e recomendo. Em breve mais informações.

"Memórias de um sobrevivente - a verdadeira história da ascensão e a queda da Manchete", Arnaldo Niskier

Nunca trabalhei na Manchete. Fiz alguns frilas para a "Fatos e Fotos" no início da carreira. Mas já li dois livros sobre a revista (um deles do meu camarada José Esmeraldo Gonçalves) e li matéria e resenha sobre o livro do Niskier na Folha de hoje (ver abaixo). Para saber preço e sites de livrarias que estão vendendo, clique aqui.


Apogeu e queda da revista 'Manchete' é tema de livro
Volume narra a trajetória da empresa de comunicação criada por Adolpho Bloch
Arnaldo Niskier, autor da obra, trabalhou por 37 anos no grupo e diz que investimento na TV foi a causa da derrocada
FABIO BRISOLLADO RIO
Corria o ano de 1955 quando um repórter iniciante da revista "Manchete Esportiva" tomou uma atitude ousada: pediu ao todo-poderoso Adolpho Bloch, dono à época de amizades influentes e de um conglomerado de comunicação, que fosse seu fiador em um apartamento que iria alugar.
Mesmo sendo um desconhecido para o dono da editora, o jovem funcionário conseguiu o avalista, que fez uma ressalva: "Se você não pagar [o aluguel em dia], corto seus ovos, hein!".
Quase 60 anos depois, a história é uma das muitas contadas por Arnaldo Niskier, hoje membro da Academia Brasileira de Letras, no livro "Memórias de um Sobrevivente - A Verdadeira História da Ascensão e Queda da Manchete".
Niskier dedica o livro aos 1.800 funcionários das empresas Bloch que, em 2000, tiveram suas atividades "abruptamente encerradas" por conta de um pedido de falência do grupo feito à Justiça.
O grupo Bloch publicava as revistas "Manchete", "Fatos e Fotos", "Ele & Ela", "Amiga" e "Desfile". Além da editora, faziam parte da organização gráficas, emissoras de rádio e uma rede de TV.
O escritor e jornalista acompanhou de perto o auge e o declínio do grupo de comunicação criado por Adolpho Bloch, judeu de origem russa que deixou seu país após a Revolução de 1917 e desembarcou no Rio em 1922.
"O Adolpho foi o maior brasileiro nascido na Rússia. Ele era um patriota, que amava o Brasil", elogia o autor, que trabalhou por 37 anos nas publicações da editora. Começou como repórter e chegou à direção da revista "Manchete".
No auge, entre os anos 1970 e 1980, a revista "Manchete", principal publicação do grupo, chegou a atingir uma tiragem semanal de 350 mil exemplares.
Suas edições especiais de Carnaval, repletas de fotos dos bailes e desfiles do Rio, esgotavam em poucas horas.
Niskier conta que a editora acumulava US$ 25 milhões em caixa até que Bloch decidiu investir em uma emissora de TV. "Foi o grande erro dele", avalia. "Apenas com a aquisição de filmes, gastou US$ 16 milhões."
A Rede Manchete foi inaugurada em junho de 1983, iniciando a partir daí uma trajetória com alguns acertos, como a novela "Pantanal" (1990), e muitos programas de baixa audiência.
Em 1999, a concessão da emissora foi vendida para o empresário Amílcare Dallevo, que fundou com Marcelo de Carvalho a RedeTV!.
A troca de comando também marcou o início de uma disputa judicial para decidir se os novos donos herdariam as dívidas da emissora.
Bloch morreu em novembro de 1995, antes de seu império chegar ao fim.
Pressionado pelas contas a pagar após lançar a TV, ele desconcertava seus interlocutores com algumas de suas frases características, como "Ouço todo mundo, mas só faço o que quero" e "O dinheiro é uma simples questão de contabilidade".

CRÍTICA JORNALISMO
Escritor revê trajetória em tom épico
Apesar de crítico à gestão idiossincrática da família Bloch, trabalho deixa de lado temas espinhosos
ELEONORA DE LUCENADE SÃO PAULOO império de Adolpho Bloch foi um colosso. Tinha rede de TV, rádios, revistas, parque industrial e quase 7.000 funcionários no seu auge, entre os anos 1980 e 1990. Sua telenovela "Pantanal" conseguiu quebrar a hegemonia da Globo no horário nobre.
Tudo se esboroou. Dívidas e erros de gestão afundaram o conglomerado. A saga dessa ascensão e queda ganha uma narrativa peculiar em "Memórias de um Sobrevivente", de Arnaldo Niskier.
No livro, estão histórias de bastidores da empresa, cartas, discursos e fragmentos de textos publicados na principal revista do grupo, a "Manchete".
Niskier, 77, trabalhou no grupo por 37 anos. Exerceu vários cargos de chefia e conviveu com o dono, Adolpho Bloch (1908-1995). Desse posto privilegiado de observação, ele recorda momentos em que o chefe aparecia como generoso, irado, otimista ou teimoso.
"Adolpho poderia ter saído de 'Guerra e Paz', o grande romance de Tolstói. Havia nele o sentimento épico da grandeza humana", diz.
Para o escritor, que é membro da Academia Brasileira de Letras, a derrocada do grupo é resultado da "sucessão letal de equívocos" decorrentes do investimento em TV feito na década de 1980 -"um sorvedouro de dinheiro e de preocupações".
Na sua avaliação, a empresa passou "a navegar às tontas, com um brinquedo caríssimo, que acabou sacrificando os até então bons resultados da mídia impressa. Os Bloch trocaram de rumo e bateram num pesado iceberg", afirma.
Niskier conta que, no final da vida, Bloch "assinava cheques já sem saber direito o que estava fazendo". Depois que ele morreu, "os credores mudaram de atitude": veio o naufrágio final.
A origem do grupo foi a indústria gráfica. O pai de Adolpho chegou a imprimir o dinheiro do governo provisório de Kerenski, na transição revolucionária na Rússia de 1917. Com a chegada dos bolchevistas ao poder, a família deixou o país.

IMPÉRIO
No Brasil, as bases do império foram sedimentadas pela revista "Manchete", que deixou de circular em 2000, após 48 anos. Como um pesquisador de arquivo, Niskier pinça reportagens e crônicas da publicação.
O mosaico passa por Getúlio Vargas, Brasília, bossa nova, futebol. E por textos saborosos de Carlos Drummond de Andrade, Nelson Rodrigues, Carlos Heitor Cony, Carlos Lacerda, Joel Silveira.
Niskier conta que Bloch resistiu ao investimento em TV e responsabilizava o sobrinho pela "desgraça na vida dele".
Oscar, então vice-presidente do grupo, "tinha se empenhado muito pela concessão do canal, junto ao governo do general João Baptista Figueiredo, onde tinha alguns amigos", escreve.
Em "Os Irmãos Karamabloch" (2008), Arnaldo Bloch, um dos herdeiros, foi mais mordaz: "Estava na hora de o regime militar retribuir à 'Manchete' os serviços de propaganda prestados ao Brasil Grande", escreve sobre a estratégia de parte da família.
O endividamento não era visto como problema. Niskier cita um discurso do empresário de 1978, quando o império crescia: "Eu vivo no vermelho desde que nasci e é isso que me faz trabalhar e cumprir meus compromissos. Se eu estivesse no preto, não teria feito nada. Estou resolvendo todos os meus problemas com otimismo, porque acredito no Brasil Grande".
Mas, em pleno Plano Cruzado, quando as dívidas começaram a apertar o grupo, Bloch foi pedir ajuda ao então presidente José Sarney.
Queria um corte pela metade dos juros pagos ao Banco do Brasil. Diante da recusa, Niskier relata que o empresário saiu da sala e caiu em prantos, repetindo: "Nunca passei por uma humilhação tão grande!".
Apesar de crítico à gestão idiossincrática da família Bloch, o livro em algumas partes transpira uma atmosfera oficial, deixando de lado temas espinhosos. Afirma que o empresário não aguentava ver algum amigo seu espinafrado pelas edições do grupo.
Niskier nega que a empresa tenha recebido "empréstimos mirabolantes" para apoiar Juscelino Kubitscheck e o projeto de Brasília -cuja cobertura deu dimensão nacional à "Manchete". "Adolpho era admirador da ousadia, da coragem de JK e se identificava com ele", defende o autor.
Depois do golpe de 1964, o autor conta que Bloch soube das dificuldades que JK passava no exílio. "Adolpho mandou-me duas vezes como emissário a Paris e a Nova York, levando US$ 7.000 para o ex-presidente", lembra.
Niskier também revela casos que beiram o pastelão. Num deles, Bloch levou um soco de um operário a quem chamara de ladrão, por estar dormindo em horário de trabalho. "Eu estou errado, mas ladrão é o senhor", disse o funcionário.
O empresário não demitiu o agressor. "Ele tinha razão. Eu não devia ter chamado ele de ladrão."

MEMÓRIAS DE UM SOBREVIVENTE
AUTOR Arnaldo Niskier
EDITORA Nova Fronteira
QUANTO R$ 49,90 (312 págs.)
AVALIAÇÃO bom

FOTOGRAFIA
Acervo de imagens desapareceu
Em 2010, o acervo fotográfico do grupo Bloch foi vendido por R$ 300 mil a um colecionador. Até hoje os ex-profissionais da Bloch não sabem onde as fotos, muitas delas históricas, estão guardadas, e nem se estão armazenadas em condições adequadas. Saiba mais em folha.com/no1189999.


    sábado, 29 de setembro de 2012

    "O melhor da Senhor/Uma senhora revista", Ruy Castro e Maria Amélia Mello


    Deu hoje na Folha. Para saber mais sobre o livro, clique aqui.

    Meus alunos da FACHA Méier fizeram um blog sobre a revista em 2008. Para dar uma espiadinha, clique aqui.

    "Exclusiva", resenha na Folha

    Para ler, clique na imagem.

    Estou lendo e recomendo. Deu hoje na Folha. Para saber mais sobre o livro, clique aqui.

    sexta-feira, 14 de setembro de 2012

    "Vertigem digital - por que as redes sociais estão nos dividindo, diminuindo e desorientando", Andrew Keen


    Estou lendo e recomendo. Li o outro livro dele, "O culto do amador", e também gostei muito. Boa reflexão sobre as redes sociais. Livro essencial para estudantes de Jornalismo. Acabou de ser lançado no Brasil.

    Para saber mais, clique aqui.

    quarta-feira, 22 de agosto de 2012

    "Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo", Mário Magalhães


    O Mário é meu camarada e recomendo sem ter lido ainda. Além disso, todos nós, especialmente meus alunos, precisam saber quem foi Marighella. Segundo a mensagem que me enviou, Mário Magalhães pesquisou por 9 anos a vida de Carlos Marighella, o guerrilheiro que se tornou um dos maiores inimigos da ditadura militar brasileira. A biografia chega nas livrarias em outubro.

    Quer saber mais? Clique aqui, aqui ou aqui.

    sábado, 4 de agosto de 2012

    "Tempo de reportagem", Audálio Dantas

    Tirei umas férias necessárias e merecidas, mas estou de volta aqui no nosso Blog. Para recomeçar uma dica que acabo de ler no site do Estadão. Audálio é um dos maiores jornalistas da história do Brasil. Vale a pena conferir.

    Para saber mais, clique aqui.

    Leiam abaixo a resenha de José Nêumane e a entrevista com Audálio que estão no site do Estadão.

    'Tempo de Reportagem' reúne melhores textos do jornalista Audálio Dantas

    Foram coletadas reportagens de Audálio publicadas pela revista 'O Cruzeiro' e 'Realidade'


    José Nêumanne
    Em 8 de julho, Audálio Dantas fez 80 anos. Em 27 de junho, Vladimir Herzog teria completado 75 se não tivesse sido torturado até a morte nos porões da repressão, em 25 de outubro de 1975. Do encontro da biografia dos dois – o primeiro nascido em Tanque d’Arca, no sertão alagoano, e o outro, em Osijek, na Croácia, parte do Reino da Iugoslávia quando Vlado (no Brasil, o nome foi adaptado para o português) nasceu – ocorreu no momento em que a ditadura militar desabou sobre os próprios pés de barro. Entre o croata e o sertanejo criou-se, então, um vínculo histórico que foi além do fato de ambos terem feito brilhante carreira jornalística. Herzog foi o mártir cujo sangue derramado batizou a volta da democracia. Audálio, o homem certo no lugar certo para indicar o caminho a ser seguido nesse rumo.
    Parte da trajetória de Audálio, como se pode ler no texto acima, consta do livro Tempo de Reportagem, coletânea de seus melhores momentos de repórter. O maior destaque, claro, é a revelação em reportagem para a Folha de S.Paulo, em 1963, da catadora de papel Carolina de Jesus na Favela do Canindé, lançada para a glória literária com o sucesso de trechos de seu diário editados por ele no livro Quarto de Despejo. Foram coletadas reportagens de Audálio publicadas pela revista O Cruzeiro – caso da viagem, em 1963, a Canudos, na Bahia, cenário do clássico da literatura em português Os Sertões, de Euclides da Cunha. E registros selecionados do que ele escreveu, de 1970 a 1972, na revistaRealidade – da saga de catadores de caranguejo no mangue à rotina dos pescadores do Velho Chico.
    Nada disso pode, contudo, ser comparado ao passo que deu após ser escolhido para encabeçar a chapa para substituir a diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, que, sob a presidência de Adriano Campanhole, se mostrava pouco disposta a enfrentar o regime militar no começo dos anos 1970. Sua vitória foi fundamental para que a entidade reagisse com firmeza e serenidade à violência cometida contra um colega que nada tinha que ver com a guerra suja.
    Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, Herzog foi teatrólogo, professor da Faculdade de Comunicação da própria USP e fez carreira de destaque como jornalista, tendo trabalhado em vários veículos, entre os quais este O Estado de S. Paulo e a BBCde Londres, até ser nomeado diretor de jornalismo da TV Cultura. Em 24 de outubro de 1975, foi convocado por agentes do Exército a dar esclarecimentos no DOI-Codi da Rua Tutoia. Apresentou-se no dia seguinte e de lá só saiu morto – sua foto, mostrando-o como que enforcado no próprio cinto, ganhou notoriedade.
    Herzog se tornou assim a primeira vítima de morte dos órgãos encarregados do combate à guerrilha dos grupos armados de extrema esquerda sem ter nenhuma ligação com tais grupos. Até então, a tortura em alta escala praticada pelo regime atingia esses combatentes. Herzog foi acusado de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), que era contra a luta armada.
    Sua morte pode ter resultado da sanha anticomunista dos agentes do Estado que atuavam no DOI-Codi de São Paulo, mas é mais provável que tenha sido usada pela linha dura como argumento contra o movimento da ala branda que promovia a abertura ampla e gradual no governo Geisel. O então governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins, era o alvo preferencial dos duros, que tentaram aproveitar-se do fato de ele ter nomeado o empresário e intelectual liberal José Mindlin secretário da Cultura e este, por sua vez, ter levado Herzog, e com ele um "ninho de comunistas", para uma emissora de televisão pública (para os militares, sinônimo de oficial).
    A declaração explícita de guerra da linha dura ao núcleo brando do regime revoltou a consciência cívica nacional, que então ficou sabendo que a violência do Estado não prendia, torturava e matava apenas os revolucionários que queriam tomar o poder pelas armas para instalar uma ditadura de esquerda. Para que isso ocorresse foi fundamental a ação conjunta de três homens: o rabino Henri Sobel, que se recusou a sepultar Herzog entre suicidas no cemitério judeu; o arcebispo dom Paulo Evaristo, cardeal Arns, que desafiou o regime convocando uma celebração ecumênica que lotou a Sé; e Audálio Dantas. O presidente do Sindicato dos Jornalistas teve o tirocínio e a coragem de levar a opinião pública brasileira de forma firme, mas serena, à consciência de que a luta contra a ditadura era de todos e não tinha acabado com o triunfo do Estado contra a extrema esquerda dizimada. Foi o começo do fim do arbítrio dividido.
    Em janeiro de 1976, o metalúrgico Manuel Fiel Filho, militante católico de esquerda, foi morto no mesmo DOI-Codi em que Herzog foi pendurado pelo cinto, o comandante do 2.º Exército foi exonerado com desonra e o colega de ofício da vítima Luiz Inácio Lula da Silva liderou greves no ABC. E o regime começou a ruir, sufocado pelo cinto de Herzog no pescoço, após ter feito a foice e o martelo sucumbirem a rajadas de metralhadora.
    Audálio Dantas foi um dos artífices dessa derrocada.

    Audálio Dantas: 'Podemos escrever como ficcionistas, mas não fazer ficção'

    Livro reúne 13 trabalhos antológicos da longa carreira do jornalista


    Luiz Zanin Oricchio - O Estado de S. Paulo
    Aos 80 anos, que não aparenta de jeito nenhum, Audálio Dantas é um mestre. Um mestre do jornalismo, sereno, incisivo e sem sinal de vaidade. Quem o conhece sabe da trajetória de vida exemplar. Das grandes reportagens em jornais e revistas O Cruzeiro e Realidade. Da coragem na condução do Sindicato dos Jornalistas em sua hora mais dramática, a do assassinato do jornalista Vladimir Herzog nos porões do DOI-Codi, durante a ditadura militar.
    Reportagem sobre 'maratona do beijo' foi incluída na coletânea - José Patrício/AE
    José Patrício/AE
    Reportagem sobre 'maratona do beijo' foi incluída na coletânea
    Dessa faceta de jornalista exemplar, temos uma boa amostra em Tempo de Reportagem, que a editora Leya lança agora. São 13 relatos pinçados por Audálio de um longo trabalho na imprensa na condição de repórter, daquele tipo que, como se diz no jargão do ofício, não pode ter medo de gastar as solas dos sapatos, pois é nas ruas que estão as boas histórias e não no ar condicionado das redações.
    Da atuação política ficaremos sabendo um pouco mais adiante, quando lançar A Segunda Guerra de Vlado Herzog, editado pela Civilização Brasileira e que chegará às livrarias em outubro. No livro, Audálio resgata a participação do Sindicato dos Jornalistas nesse episódio, marco trágico pelo assassinato de Vlado, mas também divisor de águas no enfrentamento da ditadura pela sociedade civil. Leia a seguir, a entrevista concedida por Audálio ao Sabático.
    De todos os textos que você publicou em sua longa carreira, escolheu 13 para esta coletânea. Com que critério fez a seleção?Eu já havia publicado um livro, O Circo do Desespero, título de uma das reportagens, com dez textos. Agora reuni mais dois, um sobre Carolina Maria de Jesus e outro sobre uma maratona do beijo, prova bastante parecida com a da maratona da dança, e que escrevi para a Playboy em 1993. Tirei também uma matéria chamada Restos, sobre pessoas que vivem do lixo, que acho demagógica. Mas há outra novidade. Para este livro, escrevi uma espécie de making of de cada reportagem. Quer dizer, uma apresentação de cada uma delas, uma reavaliação desses textos, alguns já antigos, pelo meu olhar contemporâneo. O interessante é que às vezes o making of é tão ou mais extenso que a reportagem em si.
    Desses, qual considera o mais importante?Sem dúvida, a reportagem sobre a Carolina Maria de Jesus, que teve repercussão imensa, mudou a vida da personagem e também a minha. É um texto do qual não gosto muito, mas ele tem essa importância. E é exemplo de como um repórter sai da redação atrás de uma coisa e pode encontrar outra, se estiver de olhos abertos. Eu saí para fazer reportagem sobre uma favela que estava se formando, no Canindé, na beira do Tietê, e descobri essa mulher que escrevia, mantinha um diário, tinha poemas e tudo o mais, e já andara por algumas redações de jornais tentando em vão chamar a atenção para o seu caso. Não gosto do meu texto, tem muito adjetivo, é até piegas. Serviu para revelar o caso e possibilitou a publicação do livro da Carolina. Tirou 100 mil exemplares, isso nos anos 50, e foi traduzido em vários países. O prefácio da edição em italiano é do Alberto Moravia.
    Há essa constante na maior parte das suas reportagens, a presença do povo como personagem, não é? Bem distante do jornalismo de celebridades atual. Você não tinha dificuldade em vender algumas dessas pautas?Sempre tive essa busca por assuntos de fundo social. O tempo era outro, ainda assim um editor me censurou por colocar negros e pobres como personagens. Por exemplo, no caso de O Circo do Desespero, era uma abordagem diferente na cobertura habitual do carnaval, os desfiles, as mulheres gostosas, os bailes. Aqui, o caso era outro. Eram miseráveis atrás do prêmio, que se matavam numa maratona de dança interminável. Por sorte, o editor de O Cruzeiro era um intelectual, um homem sensível, Odylo Costa, filho. Entreguei o texto e ele, do Rio, mandou um telegrama dizendo que havia chorado ao lê-lo. Como digo no livro, acho que foi o maior elogio que recebi em minha carreira de repórter.
    No entanto, o texto não é piegas...Sempre pretendo contar a história da melhor maneira, sem chantagear ninguém ou procurar comover.
    Mas os textos são impactantes, emocionam, fazem pensar. Buscam assuntos fortes.Há uma proximidade temática entre essa reportagem sobre a dança e a outra sobre a maratona do beijo, que fecha o livro. São parecidas por esse aspecto, o mundo cão, armado para explorar desesperados que tentam ganhar algo. Mas se reparar, no primeiro caso são miseráveis atrás de uma recompensa para garantir necessidades básicas, como alimento. No outro, já se disputava um automóvel, símbolo de status. No fundo, a mesma coisa, a exploração das pessoas, transformadas em espetáculo na sua agonia.
    A mais dura, me parece, é Juqueri - Nossos Desamados Irmãos Loucos. Que também traz uma inovação formal da técnica jornalística, um texto no qual se vê a compaixão pelo outro. Sim, para fazer uma reportagem desse tipo você tem de ser um observador. Mas precisa se identificar com o outro, com a dor do outro. Não existe neutralidade; tem o seu ponto de vista ali. E, quanto à forma, como aquele era um universo fragmentado, eu também escrevi em fragmentos, em flashes isolados, que faziam sentido no conjunto. Faço um tipo de jornalismo que não se enquadra naquele esquema do lead, das informações básicas, etc. Acho que se pode usar técnicas da literatura, como supor um determinado pensamento na cabeça de um personagem. Mas tenho receio de que a expressão "jornalismo literário" leve a pensar que estamos inventando algo, que estejamos fazendo ficção. O jornalista deve observar os fatos, ater-se às informações. Pode escrever como ficcionista, mas não fazer ficção. Deve também ouvir o máximo possível de pessoas, como fiz em Chile 70, logo após da eleição de Salvador Allende. Conversando com as pessoas de diferentes pontos de vista, percebia-se logo onde aquilo poderia dar. Não é algo que se faça num dia ou dois. Percorri o país de norte a sul, por mais de 3500 quilômetros e ouvi dezenas de pessoas antes de escrever.
    E quanto ao livro sobre o caso Herzog?A Segunda Guerra de Vlado Herzog eu estava devendo havia 37 anos. O caso já foi esmiuçado de vários ângulos, houve até filme, mas faltava destacar a atuação do Sindicato dos Jornalistas na ocasião. A resistência, o culto ecumênico na Catedral da Sé, toda a reação à morte do Herzog foi um desafio à ditadura, um divisor de águas no processo de liquidação do autoritarismo, e o nosso sindicato teve participação importante em tudo isso.
    Como você o escreveu?É uma história do Vlado, em sua parte biográfica. E a história daquele período e das circunstâncias que o levaram à morte. Eu não havia anotado nada. Levei ano e meio lembrando e escrevendo. Nas horas vagas, que se diga, pois não interrompi outras atividades profissionais para fazer esse livro. Fui lembrando. Parte dele é um diário em primeira pessoa, o resto é em terceira pessoa. Há esse lado íntimo, pessoal. Mas também entrevistei muita gente. Ouvi mais de 50 participantes dos fatos, José Mindlin, dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel, jornalistas que haviam sido presos antes do Vlado como Sergio Gomes da Silva, Paulo Markun, Duque Estrada, a Clarice Herzog. Enfim, é um livro que eu sentia que devia ser escrito.
     

    sábado, 14 de julho de 2012

    "Esse é meu tipo", Simon Garfield

    Para saber mais, clique aqui.

    Leia a matéria sobre o livro e o autor publicada hoje na Folha de S. Paulo.

    Livro compõe retrato curioso da tipografia
    "Esse É Meu Tipo", trabalho do inglês Simon Garfield, narra em tom jornalístico, para leigos, a evolução das fontes digitaisCLAUDIO ROCHA
    ESPECIAL PARA A FOLHA


    Este não é um livro técnico, pensado e escrito para designers gráficos -os usuários naturais das fontes digitais.
    O jornalista inglês Simon Garfield também não é um especialista no assunto, mas mostrou-se um observador atento ao descrever os vários aspectos da modernidade sob a ótica do design tipográfico no livro "Esse É Meu Tipo", que chega agora ao Brasil.

    No fundo, ele confronta o conceito de qualidade com a complexidade da comunicação visual contemporânea.

    As manifestações da tipografia no cotidiano normalmente interessam apenas aos profissionais.
    Com uma abordagem jornalística de fatos e personagens importantes ou curiosos da história antiga e recente da tipografia, o autor aproxima esse universo do leitor comum, ligado essencialmente ao conteúdo da mensagem.

    Entretanto, o computador pessoal transformou o leitor em usuário, obrigando-o a enfrentar as peculiaridades das fontes tipográficas sem muito preparo.

    RECURSOS TENTADORES
    O menu de fontes se apresenta repleto de opções de estilo e recursos tentadores, algumas vezes acessados inadvertidamente.

    O livro conta a história inusitada da funcionária de uma empresa de seguros de saúde que foi demitida por enviar um e-mail com o texto integral em letras maiúsculas, dando a entender que ela estava elevando o tom de voz na mensagem para o cliente.

    Em trabalhos profissionais, como logotipos, as fontes se transformam em matéria-prima fundamental para identificar empresas.

    A fonte Unity, usada no logotipo da famosa bola Jabulani, na Copa do Mundo de 2010, compôs também os números e nomes nos uniformes dos jogadores de seleções como Alemanha e Espanha, patrocinadas pela Adidas.

    Essa fonte foi desenhada por Yomar Augusto, citado de passagem no livro, sem mencionar que ele é brasileiro.

    É um exemplo de como o design tipográfico brasileiro tem evoluído, em quantidade e qualidade.

    EXPRESSIVIDADE
    O livro traz depoimentos dos criadores de fontes digitais e análises breves de tipos notórios, como a badalada Helvetica e a controversa Comic Sans, que alcançam públicos distintos, em condições diversificadas.

    Explica também por que as aplicações em sinalização viária ou em aeroportos privilegiam a legibilidade e a funcionalidade, enquanto em uma embalagem ou em uma capa de livro elas buscam, antes de tudo, expressividade e personalidade.

    Julgar os atributos formais das fontes e avaliar as sensações que um texto pode, e deve, expressar por meio das letras faz parte do trabalho de um programador visual.

    Após a leitura deste livro, contudo, o usuário comum se sentirá mais familiarizado com a linguagem tipográfica e com o senso crítico um pouco mais apurado.

    ESSE É MEU TIPO
    AUTOR Simon Garfield
    EDITORA Zahar
    TRADUÇÃO Cid Knipel
    QUANTO R$ 44,90 (360 págs.)
    AVALIAÇÃO ótimo
    CLAUDIO ROCHA é tipógrafo e coeditor da revista "Tupigrafia"

    quarta-feira, 11 de julho de 2012

    "Jornal Ex. Edicão completa", diversos autores

    Para saber mais, clique aqui.

    Para quem curte ou quer conhecer a Imprensa Alternativa. O Ex- foi um jornal sensacional. Para acessar a edição em pdf, clique aqui.

    Leia a sinopse publicada no site da Imprensa oficial de São Paulo:

    "Produzido entre 1973 e 1975, com periodicidade mensal, o jornal EX- foi um dos expoentes da chamada mídia alternativa durante a ditadura militar, reconhecido por suas reportagens aprofundadas, textos ácidos e imagens provocativas. Suas 16 edições e quatro especiais estão agora reunidas em publicação fac-símile produzida pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e o Instituto Vladimir Herzog. Para dar a exata dimensão da ousadia criativa e oposicionista do EX-, a capa da primeira edição trazia Hitler, nu, tomando sol em uma praia tropical. No expediente, o alerta de que a distribuição era própria, com a expressão “garantida” entre parênteses. E o aviso Nenhum Direito Reservado. Já a manchete e a matéria de capa do 16º acabaram sepultando o jornal, tornando-se a última edição distribuída sob o nome EX-. Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós a morte do jornalista Vladimir Herzog, que revelava o assassinato de Herzog pelos militares, em outubro de 1975, e vendeu 50 mil exemplares. A nova edição, feita pelos editores da época e os profissionais da Imprensa Oficial, traz toda a história da publicação e contextualiza a verdadeira saga que foi produzir esse tipo de publicação durante a repressão: as inúmeras visitas dos militares à redação, as ameaças de morte e as prisões no DOPs. Mas, acima de tudo, havia o prazer do convívio com grandes nomes do jornalismo nacional".

    terça-feira, 3 de julho de 2012

    "Exclusiva", Annalena McAfee


    Leia a sinopse (Publifolha) abaixo e o link para a entrevista com a autora publicada no caderno "Ilustríssima", da Folha de S. Paulo, no último domingo.

    Janeiro de 1997. A popularização da internet anuncia uma crise no jornalismo escrito, crise esta que passa - em graus variados de negação - despercebida pelas grandes redações. Mesmo a jovem Tamara Sim, responsável por uma coluna sobre celebridades no jornal The Monitor, parece descrente do futuro digital de sua profissão. O que ela quer é migrar da página de fofocas para o prestigioso suplemento literário que o The Monitor publica aos domingos. A chance vem na forma de um perfil da septuagenária Honor Tait, lendária correspondente de guerra e uma das decanas do jornalismo inglês. O encontro entre as duas não podia ser mais desastroso.


    Em meio a um clima hostil e de desconfiança, Tamara investigará a fundo o passado de Honor Tait, enquanto a correspondente constata o declínio de seu prestígio e poder. Quanto mais Tamara tenta desvendar os segredos de Tait, mais ela se retrai em sucessivas cortinas de fumaça. Mas, afinal, o que ela estaria escondendo? O perfil de Tait acabará se tornando a peça-chave de uma intriga digna das melhores páginas do noticiário. Entre prazos desumanos e mentiras escandalosas, o abismo de gerações que separa repórter e personagem promete se fechar ruidosamente.

    É o que basta para McAfee, ela mesma uma jornalista tarimbada, lançar um olhar ácido e crítico sobre o passado e o futuro de sua profissão. Na veia de grandes sátiras ao jornalismo, como Furo, de Evelyn Waugh, Exclusiva se utiliza dos meandros de uma sala de redação para zombar não apenas de repórteres e editores, mas da própria lógica da batida frase "toda história tem dois lados".



    Para ler a entrevista, clique aqui.

    terça-feira, 26 de junho de 2012

    "Jornalismo - Mídias Digitais. Um novo papel além das redações", diversos autores


    Estou acabando de ler e recomendo. Boas reflexões sobre a atualidade e o futuro do jornalismo. 

    Uma pequena sinopse do livro.

    O livro “Jornalismo & Mídias Digitais – um novo papel além das redações” foi lançado em agosto de 2011, com uma coletânea de 10 artigos sobre temas como Webwriting, Usabilidade, Métricas e Redes Sociais. Assuntos que hoje são comuns para muita gente, mas talvez ainda não totalmente inserido no dia a dia das redações. Os autores escalados naquele primeiro livro foram: Paulo Henrique Ferreira, Jaqueline, Pedreira, Mirna Tonus, Nino Carvalho, Raphael Perret, Mario Cavalcanti, Luciano Miranda, além dos organizadores Eduardo Mansell, Maurício Louro e Rafael Louzada. Para escrever o texto de abertura, a valiosíssima contribuição da querida Pollyana Ferrari.

    Mais informações sobre o primeiro livro, clique aqui.


    quarta-feira, 20 de junho de 2012

    Jornalismo não deveria ser para amadores: "O culto do amador", Andrew Keen


    Li quando foi publicado e recomendo.

    Sinopse publicada no site da Livraria da Travessa:

    É a celebração do amadorismo. Qualquer um, por mais mal-informado que seja, pode publicar um blog, postar um vídeo no YouTube ou alterar um verbete na Wikipédia. Esse anonimato da web põe em dúvida a confiabilidade da informação. E a distinção entre especialista e amador torna-se cada vez mais ambígua. A pirataria digital já devastou a multibilionária indústria fonográfica e ameaça a indústria do cinema e a do livro. Oferecendo soluções concretas que permitiriam frear a atmosfera inconseqüente e narcisista da web, O culto do amador é um alerta dirigido a cada um de nós. Suas críticas podem ser radicais e polêmicas, mas levantam uma discussão extremamente necessária.

    Um sucesso internacional, publicado em mais de 12 línguas. Por conta da discussão gerada pelo livro nos Estados Unidos e na Inglaterra, Andrew Keen participou de diversos programas de TV e rádio ao redor do mundo. 

    Para saber mais, clique aqui.

    Para quem quer saber mais sobre Blogs: "Blogging heroes", Michael A. Banks


    Li assim que foi publicado e recomendo.

    Pequena sinopse publicada no site da Livraria da Travessa:

    "Entre mais de 102.000.000 de blogs, poucos deles são considerados influentes, inovadores e bem-sucedidos de forma singular. 30 blogueiros ganharam uma quantidade de seguidores fiéis que cresce a cada dia. Eles escrevem sobre tudo, de tendências de negócios e trabalhos internos na Microsoft até dicas para pais, segredos pessoais, e como prolongar a vida do seu veículo. Eles são apaixonados pelos temas que abordam e pela livre expressão de blogar. E eles são ainda mais apaixonados por terem essa paixão. Eles têm sido retratados pela Wired, Popular Science, CNN, NPR, MSNBC e 20/20. Em conversas individuais com Michael A. Banks, esses pensadores compartilham suas táticas, filosofias, suas motivações, como eles exploram temas, e seus segredos pessoais para o sucesso".

    Para saber mais, clique aqui.

    quarta-feira, 6 de junho de 2012

    "João Gilberto", Walter Garcia

    Não é um livro sobre Jornalismo, mas é um livro sobre o gênio João Gilberto. Não li ainda, mas é João Gilberto e recomendo. Veja abaixo matéria publicada hoje na Folha de S. Paulo, a capa e a sinopse da editora.


    Livro busca decifrar enigma João Gilberto
    Edição comemorativa traz entrevistas, depoimentos e ensaios sobre o cantor, que completa 81 anos no domingo
    Organizador e editores buscaram deixar em segundo plano o folclore em torno do criador da bossa nova
    Francisco Pereira
    João, entre Luiz Roberto e Quartera, de Os Cariocas, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, nos anos 1960, no Rio de Janeiro
    João, entre Luiz Roberto e Quartera, de Os Cariocas, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, nos anos 1960, no Rio de Janeiro
    PAULO WERNECK
    EDITOR DA “ILUSTRÍSSIMA”


    Depois do anticlímax de ter a turnê de seu aniversário de 80 anos cancelada no ano passado, João Gilberto completa 81 no próximo domingo debaixo de um holofote que pode ajudar a compreender por que, afinal, tanta gente o considera um gênio.

    Misto de fortuna crítica e homenagem, o livro "João Gilberto", que a Cosac Naify lança nesta semana, tem tudo para se tornar um marco, como "O Balanço da Bossa" (1968), de Augusto de Campos, ou "Chega de Saudade" (1990), de Ruy Castro.

    Organizado por Walter Garcia, professor do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, sob coordenação dos editores Milton Ohata e Augusto Massi, o livro pretende reunir tudo o que já se escreveu de importante sobre João e que estava fora de circulação.

    Jornalistas, musicólogos, músicos e pesquisadores foram mobilizados para mostrar diferentes ângulos da arte de João, sua recepção na França, na Itália, no Japão, suas conexões com a arquitetura e a literatura.
    Lá estão as primeiras entrevistas e perfis dos anos 1950, as resenhas feitas no calor da hora, os depoimentos de músicos e parceiros e uma empolgada convocação do cronista Antonio Maria para que o leitor fosse ouvir o baiano em sua companhia, numa boate em Copacabana.

    "Este é um livro a favor", explica Ohata. E ser a favor, aqui, significa pôr em segundo plano o anedotário que aderiu à figura de João. Esqueça o homem que fez o gato se suicidar, que fala no telefone por código Morse, que só sabe reclamar do som e do ar-condicionado etc. Não por acaso, há no livro uma seção chamada "Antianedotário".

    "É uma grande bobagem reduzir João ao anedotário", disse Garcia à Folha. "Espero que o livro ajude a desmitificar muito do que se fala de João Gilberto."

    Na busca por essa "desmitificação", Garcia foi atrás de Aderbal Duarte, músico e professor baiano que conseguiu demonstrar como se dá, na pauta musical, a famosa batida criada por João.
    Outra "aventura" foi localizar, em Manhattan, o baterista Sonny Carr, que atuou no cultuado disco branco de 1973 e que muitos acreditavam não passar de pseudônimo.

    ENSAIO

    Embora também traga reportagens e depoimentos, além de fotos inéditas (veja uma delas acima), a tônica do livro é o ensaio.

    O melhor exemplo de tentativa de apreender criticamente a obra de João e tratá-la como uma questão intelectual é um texto de 1992, talvez o mais citado ensaio sobre o cantor.

    No curto e brilhante "João Gilberto e o projeto utópico da bossa nova", o musicólogo Lorenzo Mammì demonstra como João simbolizou uma geração que apresenta "seu mais rigoroso trabalho como um lazer, como o resultado ocasional de uma conversa de fim de noite".

    Nem tudo, porém, está no holofote da Cosac Naify. Sobram EUA, Europa e Japão, mas falta esquadrinhar sua passagem pelo México, onde gravou um de seus discos mais importantes. Falta também uma análise mais densa de sua parca produção como compositor.

    Dissecar o mito, no entanto, nem sempre escapa ao tom de "vida de santo" tão comum nos textos sobre o baiano. Que o diga o produtor japonês Shigeki Miyata, que em seu "O Cotidiano de um Deus" relata em êxtase um telefonema de João, numa abstrusa mistura de português e inglês: "Sentia como se tivesse ouvido uma linda música durante minutos".

    Como escreve Mammì, "a perfeição de João Gilberto [...] carrega objetivamente os estigmas da obsessão".
    Ou, como resumiu o amigo e parceiro Vinicius de Moraes, em 1964: "Eu sei que dentro da sua neurose, dentro da sua esquisitice, existe um lugar que ele rega diariamente com as lágrimas que chora por dentro. Um lugar que podemos chamar de Brasil, por exemplo".

    JOÃO GILBERTO
    ORGANIZADOR Walter Garcia
    EDITORA Cosac Naify
    QUANTO R$ 215 (512 págs.)




    Título do Livro

    SINOPSE

    Colaboração: Walter Garcia
    Idioma: Português

    João Gilberto é resultado de uma vasta pesquisa que propõe uma abordagem diferente sobre a obra e a imagem um dos maiores artistas em atividade no mundo hoje. A seleção foi pautada pela importância histórica e ineditismo, evitando o folclore em torno do músico.
    Divido em quatro partes, João Gilberto apresenta uma seleção de entrevistas concedidas pelo cantor e reúne depoimentos de pessoas que participaram de seu cotidiano. Além disso, a edição traz ensaios e textos críticos escritos especialmente para este livro, que contextualizam sua música na história da MPB e apontam afinidades entre sua produção e outras
    áreas da cultura brasileira.
    O livro conta com textos e depoimentos de Dorival Caymmi, Vinicius de Moraes, Ferreira Gullar, Caetano Veloso, Nara Leão,
    Mario Sergio Conti, José Miguel Wisnik, Lorenzo Mammì e outros. 

    João Gilberto tem ainda uma cronologia de vida e obra, discografia e bibliografia selecionada, passando em revista toda a trajetória do artista.

    terça-feira, 5 de junho de 2012

    "VEJA: o indispensável partido neoliberal", Carla Luciana Silva


    Vale a pena conferir. Pequena sinopse. Disponível na Livraria Antonio Gramsci, no Rio de Janeiro:

    "Este livro mostra o papel assumido pela principal revista do Grupo Abril, VEJA, como agente partidário na construção da hegemonia neoliberal no país. A publicação, resultado da tese de doutorado da autora, analisa a revista como meio de comunicação que contribui para a consolidação da gestão do capital no Brasil e, consequentemente, para a legitimação do discurso neoliberal. A autora explica que o ´indispensável` do título é uma brincadeira com o slogan da Veja. ´A Veja diz ser indispensável para o país que queremos ser. A pergunta é: quem está incluído nesse ‘nós’ oculto? A classe trabalhadora é que não`, afirma Carla".

    sexta-feira, 1 de junho de 2012

    "Jornal Movimento, uma reportagem", Carlos Azevedo


    O jornal Movimento foi simplesmente um dos ícones da imprensa alternativa, também conhecida como "imprensa nanica". Leia aqui.

    Cecília Costa, autora do livro "Diário Carioca, o jornal que mudou a imprensa brasileira", no programa "Conexão"



    Não é por ter a honra de fazer parte da equipe não, mas o programa "Conexão", do meu amigo Fábio Lau, está cada vez melhor. Cecília Costa, que esteve conversando com meus alunos na FACHA das turmas da manhã e da noite, deu a bela entrevista acima, muito bem editada pelo programa. Como já disse aqui: estou lendo o livro e recomendo.

    segunda-feira, 28 de maio de 2012

    Para conhecer um pouco da história do Jornal do Brasil: "Memórias de um Secretário - Pautas e Fontes", Alfredo Herckenhoff


    Recomendo. Há muito pouco de literatura sobre a história do Jornal do Brasil. 

    Pequena sinopse, publicada no site da Livraria da  Travessa.

    "O relato é caudaloso e emocionado. Não se isenta da nostalgia. Mas passa ao largo da amargura, embora o autor tenha sido testemunha e vítima do naufrágio a que foi conduzido o antigo colosso da imprensa brasileira".

    A leitura deste livro vale mais do que um semestre de faculdade de Comunicação.
     

    Para saber mais, clique aqui.

    Vejam o vídeo da noite de lançamento, produzido por João Saboya.

    domingo, 27 de maio de 2012

    Pergaminhos de pele humana!


    Não é sobre Jornalismo, mas o assunto aqui é livro. Deu hoje na coluna do Ancelmo, no Globo.

    sábado, 26 de maio de 2012

    "O diabo e Sherlock Holmes", David Grann


    Um ex-aluno meu já havia me falado sobre este livro. O caderno "Ilustrada" da Folha de hoje publica a resenha abaixo.
    Jornalista narra mistérios da vida real
    Colecionador de obsessões, David Grann, repórter da "New Yorker", lança o livro "O Diabo e Sherlock Holmes"
    Reportagens sobre assassinatos e loucura foram escritas nos últimos dez anos; muitas ainda não têm solução

    MARCO RODRIGO ALMEIDA
    DE SÃO PAULO

    As histórias do livro "O Diabo e Sherlock Holmes" são tão estranhas que mais parecem criações de Conan Doyle (1859-1930), "pai" do famoso detetive.

    Em uma delas, por exemplo, um francês de 30 anos, mestre do disfarce, se passa por adolescentes órfãos de várias nacionalidades para ter "amor e uma família".

    No relato que dá título ao livro, o maior especialista em Sherlock Holmes do mundo morre misteriosamente cercado por livros e pôsteres do personagem.

    Contudo, os dois casos acima, e os outros dez que compõem o título, por mais inverossímeis que sejam, são todos reais.

    Consumiram meses de investigação, várias viagens e muita sola do sapato de David Grann, repórter da revista "New Yorker".

    Grann, pode-se dizer, é um colecionador de obsessões. Seu livro anterior, "Z - A Cidade Perdida" (2009), tratava do desaparecimento, ainda hoje não totalmente desvendado, do explorador britânico Percy Fawcett na Amazônia brasileira, em 1925.

    Fawcett embrenhou-se na floresta convencido de que encontraria uma suposta civilização perdida.
    Os tipos que aparecem nas reportagens do novo livro de Grann têm aspirações menos ambiciosas, mas, quase sempre, igualmente inatingíveis.

    "Quase todas as histórias começam a partir de uma nota breve publicada em algum jornal ou da dica de um amigo. Leio vários jornais por dia e mantenho um caderno cheio dessas ideias potenciais", explicou Grann, por e-mail, à Folha.

    Algumas delas já levaram o jornalista a aventuras das mais inusitadas. Numa das reportagens, ele acompanhou um biólogo, outro tipo da galeria dos obsessivos, na caça a uma lula-gigante, que pode atingir até 14 metros de comprimento.

    Na introdução do livro, Grann descreve que uma reportagem, assim como o trabalho de um detetive, "é um processo de eliminação". A comparação não é gratuita.

    Fã de literatura policial, ele colocou, antes de cada uma das três partes de seu livro, frases tiradas das histórias de Sherlock Holmes.

    Há, porém, uma diferença significativa. Na ficção, não havia mistério que o genial detetive não pudesse desvendar. Já na vida real, em geral estamos tão perdidos quanto o dr. Watson e quase tudo permanece oculto.

    "Uma das coisas que tento mostrar em minhas histórias é que, ao contrário dos romances policiais, nós nem sempre temos todas as respostas. Muitas vezes temos de conviver com a dúvida, e por isso algumas histórias são tão assustadoras", define ele.

    Para saber mais, clique aqui.




    "1943, Roosevelt e Vargas em Natal", Roberto Muylaert


    Não é bem um livro de jornalismo, mas foi escrito por um jornalista conceituado e trechos que destaco na resenha publicada hoje no caderno "Ilustrada" da Folha justificam o investimento, principalmente para quem gosta de história. E Jornalista tem que gostar de história.

    CRÍTICA / HISTÓRIA
    Livro sobre reunião entre Vargas e Roosevelt vale pelo pitoresco
    OSCAR PILAGALLO*
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    O jornalista Roberto Muylaert transformou em livro uma nota de rodapé da história. A obra trata do encontro entre os presidentes Franklin Roosevelt, dos EUA, e Getúlio Vargas, na base aérea americana de Natal em 28 de janeiro de 1943.

    Apesar de ter servido à propaganda da ditadura do Estado Novo, o encontro em plena Segunda Guerra teve pouca relevância para o conflito e para o Brasil.

    O ponto de inflexão por que passava a guerra estava distante do Nordeste brasileiro. Roosevelt vinha de uma reunião com Churchill, primeiro-ministro britânico, em que eles haviam afinado a estratégia das Forças Aliadas. E, poucos dias depois da visita, o Exército soviético derrotaria os nazistas na batalha de Stalingrado. Foram esses os eventos decisivos.

    A reunião de Natal também teve pouca importância para o Brasil. Nenhuma decisão foi tomada na base, que, aliás, já servia de escala aos aviões americanos que levavam suprimentos ao norte da África.
    O livro levanta um aspecto pouco explorado pela historiografia: em troca do envio de soldados brasileiros à guerra, Roosevelt acenou com um papel que o país teria na futura ONU, "com um possível assento no Conselho de Segurança".

    Tal filão, porém, é pouco explorado pelo autor, o que impõe uma pergunta: por que Roosevelt tentou seduzir Vargas a aceitar uma proposta que não era do interesse das Forças Armadas americanas? Pelo que se sabe, a iniciativa de enviar tropas à guerra já era defendida pelo próprio Vargas antes do encontro.

    O melhor de "1943" são os "casos pitorescos". O contingente de 5.000 soldados americanos mudou o cotidiano da cidade. Foi lá que o Brasil conheceu a Coca-Cola, o chiclete e a cerveja em lata.

    O autor gasta muita munição para derrubar mitos locais, como a crença de que os aviões saíam de Natal para combater na África e depois retornavam à base.

    A narrativa é interrompida, com uma inesperada mudança de foco, que passa a ser a história da alemã casada com um filho de Getúlio, sobre a qual recaía a suspeita de ser espiã nazista.

    Desconectada do encontro de Natal, a história, no entanto, vale por si -um caso de digressão transformada em bônus.

    * OSCAR PILAGALLO, jornalista, é autor de "História da Imprensa Paulista" (Três Estrelas).


    Para saber mais, clique aqui.

    sexta-feira, 25 de maio de 2012

    Revista de Jornalismo ESPM (Edição brasileira da Columbia Journalism Review)

    Não é livro, mas é sobre Jornalismo. Recomendo.



    Em parceria com a Universidade Columbia, dos Estados Unidos, a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), no Brasil, lançou a Revista de Jornalismo da ESPM, a versão brasileira da influenteColumbia Journalism Review, informou o portal Meio e Mensagem. A revista começou a circular no início de maio e será trimestral.
    Como aponta o título da publicação, a Revista de Jornalismo da ESPM tratará de temas relativos ao jornalismo, terá artigos traduzidos da revista americana e também matérias produzidos no Brasil. O diretor de redação é o jornalista Eugenio Bucci, também diretor do curso de pós-graduação em jornalismo da universidade brasileira.
    primeiro número da revista, que será vendida mediante assinatura, tem artigo do jornalista Alberto Dines sobre o efeito da tecnologia no jornalismo; matéria sobre a imprensa negra norte-americana; reflexão sobre a relação entre assessoria de imprensa e redação entre outros assuntos.
    A Revista de Jornalismo da ESPM se junta a outras escassas publicações dedicadas à reflexão sobre a profissão. Outro exemplo é a Revista Brasileira de Ensino de Jornalismo, voltada mais para a educação jornalística do que para a profissão em si. (Fonte: Blog Jornalismo nas Américas)