Artigos, matérias e resenhas

Resenha de PC Guimarães sobre o livro "Irineu Marinho - Imprensa e Cidade",
de Maria Alice Rezende de Carvalho, publicada no caderno "Prosa & Verso" de O Globo, em 01 de dezembro de 2012,
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Resenha de PC Guimarães sobre o livro "Os melhores jornais do mundo",
de Matias Molina, publicada no caderno "Prosa & Verso" de O Globo
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Resenha de PC Guimarães sobre o livro "O sequestro dos uruguaios",
de Luiz Cláudio Cunha, publicada no caderno "Prosa & Verso" de O Globo
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Resenha de PC Guimarães sobre o livro "A Guerra Civil espanhola",
de Francisco J. Romero Salvadó, publicada no caderno "Prosa & Verso" de O Globo
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10 livros de jornalismo
Tais Laporta (Site Digestivo Cultural)



Indicar livros é sempre uma tarefa arbitrária. Ainda assim, uma boa orientação pode alavancar a leitura de iniciantes aventureiros. Trombei com uma pilha de títulos sobre (e de) jornalismo durante minha formação, mas poucos são inesquecíveis, de verdade. Encontrei-os como agulhas no palheiro – mas valeu a pena. As obras ruins e medianas hoje não passam de uma vaga lembrança, enquanto que as boas – as que fizeram diferença – estão impregnadas na minha vida. 

Não importa se tais livros são clássicos ou meros desconhecidos, tampouco se indicados pelas faculdades de jornalismo. Na verdade, o que interessou nessa seleção é o que atingiu meu gosto pessoal. Por isso, recomendo a lista sem culpa para quem quer iniciar sua jornada por bons livros que levam à arte do jornalismo. Ficaram de fora muitas obras-primas que mereceriam destaque, mas isso se deve à limitação da lista (10) e por ainda não ter lido um décimo da infinita gama de livros já escritos na área. Tomei como critério dois fatores: os livros abaixo podem ser encarados como verdadeiras aulas de jornalismo – valem mais que dezenas de horas em sala de aula – mas devem ser consumidos por prazer, sem aquela obrigação acadêmica. 


Hiroshima (1946) – O jornalista John Hersey levou 17 dias para entrevistar dezenas de sobreviventes da bomba atômica em Hiroshima(os "hibakushas") e quase dois meses para escrever. Como resultado, nasceu a reportagem que faria 300 mil exemplares da revista New Yorkerdesaparecerem das bancas em menos de um dia, em 31 de agosto de 1946. Hersey reconstruiu a história de seis sobreviventes, aliando uma rigorosa apuração com técnicas emprestadas da literatura – o que deu um apetite extra ao texto. A reportagem, mais tarde lançada em livro, foi considerada por acadêmicos de jornalismo a melhor já escrita de todo o século XX. A leitura é indispensável não só porque mudou o jornalismo para sempre, mas também porque ensina como contar uma história com estilo e simplicidade. 


Os Sertões (1902) – Considerado uma tortura para a maioria dos leitores, o clássico de Euclides da Cunha é um verdadeiro tratado sobre o potencial jornalístico no Brasil. Apesar do vocabulário rebuscado e de parágrafos que parecem indecifráveis, Os Sertões é o retrato de um mundo até então desconhecido pelas lentes da imprensa, construído por alguém que teve a sensibilidade de trazer informações riquíssimas em uma terra desértica. Das três partes em que é dividido ("A Terra", "O Homem" e "A Luta"), as duas últimas são as que mais interessam ao jornalismo. Os que quiserem encarar não esquecerão dessa viagem. 


Por quem os sinos dobram (1940) – Ernest Hemingway foi correspondente de guerra em Madrid durante a Guerra Civil Espanhola e conseguiu tirar, a partir deste episódio, uma de suas maiores criações escritas. Apesar de ser uma obra literária, Por quem os sinos dobram é um dos maiores exemplos de como um jornalista pode se apropriar da realidade para construir uma bela narrativa ficcional, sem perder a intimidade com a realidade presenciada. Segue, numa esfera internacional, o caminho de Os Sertões, ao transmitir toda a dimensão de um conflito e apropriá-lo a personagens literários. 

A sangue frio (1959) – Considerado o primeiro grande livro-reportagem do século XX (inaugurou o chamado romance de não-ficção), A sangue frio resgata, com minúcias, o assassinato de uma família em uma inóspita cidade do Kansas (EUA). É um dos maiores exemplos de como o jornalismo pode mergulhar profundamente em uma realidade e reconstruí-la quase que inteiramente. Truman Capote preparou-se durante anos entre pesquisas, entrevistas e observação para traduzir o universo psicológico dos personagens e relatar os fatos que precederam o crime até a condenação dos assassinos. É um dos livros mais indicados em todos os cursos de jornalismo e referência, até hoje, da combinação entre o árduo trabalho de apuração e elementos literários. 

Fama e anonimato (2004) – O norte-americano Gay Talese foi um especialista em seguir os passos de celebridades e de pessoas desconhecidas para criar reportagens publicadas nas revistas Esquire eNew Yorker. Lançado recentemente no Brasil, Fama e anonimato é uma coletânea de perfis publicados originalmente na imprensa a partir da segunda metade do século XX. Divide-se em três temáticas: a vida urbana em Nova York; a construção da ponte Verrazzano-Narrows; e a vida de artistas e esportistas americanos. Talese trabalha com detalhes aparentemente inúteis, mas que, por suas mãos, dão um ar interessante à narrativa. Um de seus perfis mais famosos, "Frank sinatra está resfriado", é fundamental para entender a estrutura de um perfil. Nomaking off "Como não entrevistar Frank Sinatra", o jornalista conta a proeza de ter escrito sobre o cantor apenas pela observação e pela entrevista com pessoas que o cercavam, visto que não conseguiu entrevistá-lo. Outra grande aula de jornalismo. 

Notícia de um seqüestro (1996) – Poucos conhecem a faceta jornalística do vencedor do Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez. Pois esse lado do escritor também se mostra magistral, ainda mais quando se trata de construir um livro-reportagem. A obra reconta uma série de seqüestros, protagonizada por narcotraficantes colombianos em 1990. Depois de entrevistar as vítimas e colher informações mais que precisas, Gabo usa a precisão desses detalhes e a habilidade literária para radiografar o mundo dos cativeiros. Imperdível não só para jornalistas, mas para todos que apreciam seu jeito ímpar de contar histórias. 

Minha razão de viver – Memórias de um repórter (1987) – O livro de memórias de Samuel Weiner, considerado um dos maiores jornalistas brasileiros, interessa não somente pela trajetória do repórter e, posteriormente, dono do jornal Última Hora. O livro acaba por resgatar fatos de fundamental importância para a história do Brasil, como o memorável furo de reportagem de Weiner com Getúlio Vargas, pouco antes de retornar ao poder nos anos 50. Além de ter vendido jornais como água, a reportagem influenciou decisivamente o cenário político-eleitoral da época. Embora os acontecimentos relatados partam de um ponto de vista pessoal, unem jornalismo e história como mútuos protagonistas. 

A regra do jogo (1997) – Outra obra que recria a memória de um jornalista, mas também traz reflexões abstratas sobre o dia-a-dia da profissão. Um dos pontos é a ética jornalística, que, segundo o autor, deve ser comparada à do marceneiro, ou seja, à de qualquer outro cidadão. Responsável pela modernização das redações de grandes jornais – O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo – por volta dos anos 80, Cláudio Abramo emite uma série de desabafos sobre os cargos que ocupou na grande imprensa e sobre o relacionamento com colegas – grandes jornalistas do período. Boa referência sobre os bastidores das redações e sobre as relações construídas nesses ambientes, suas transformações e hierarquias. 

Manual de radiojornalismo (2002) – Embora o título seja bem específico e até fuja de um foco de leitura mais generalista, seus autores – Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima –, ambos experientes jornalistas da rádio CBN, trazem um guia essencial de termos para quem atua nas mais diversas áreas do jornalismo, de economia a esportes. Interessante para consulta, principalmente para estreantes que precisam de socorro em novas editorias. 

Chatô – O rei do Brasil (1994) – Ler a biografia de Fernando Morais sobre o legendário Assis Chateaubriand (1892-1968) – dono do maior conglomerado da imprensa que o Brasil conheceu – parece uma missão ingrata, dado o tamanho da obra e a aglomeração de detalhes. Lido por muitos com desgosto, Chatô pode ser encarado por outra ótica: uma importante referência sobre a imprensa brasileira, pois recria não apenas a vida de um dos maiores empreendedores do ramo de comunicações, mas também fatos históricos como a era do rádio, a chegada da televisão na década de 50 e as mudanças econômicas e políticas que influenciaram a imprensa nacional. 



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06.maio.2012 07:00:04

Estadão lança acervo na internet no dia 23

Da abolição da escravidão à promulgação da Constituição, do voo de Santos Dumont à chegada do homem à Lua, da Proclamação da República à redemocratização, do nascimento do futebol à conquista do pentacampeonato, do conflito de Canudos a duas guerras mundiais, não há assunto relevante que não tenha sido noticiado nas páginas do Estadão ao longo de seus 137 anos de história.
Mais de 2 milhões de páginas publicadas pelo jornal desde a sua fundação, em 4 de janeiro de 1875, estarão na íntegra à disposição para consultas na internet a partir do próximo dia 23. Com alguns cliques no computador, tablet ou celular será possível mergulhar na história do Brasil e do mundo.
Mais do que uma poderosa ferramenta de busca de informações, o Acervo Estadão proporcionará uma experiência inédita em termos de disseminação de conhecimento. Convênios com bibliotecas e instituições de ensino do País garantirão acesso pleno a pesquisadores e estudantes.  Ao entregar esse valioso acervo aos leitores, o Estado reafirma seu compromisso com a disseminação do conhecimento por meio do jornalismo independente e de qualidade.
História. A digitalização dará destaque à censura sofrida pelo Estado em vários períodos, especialmente após a edição do Ato Institucional n.º 5 (AI-5) em 13 de dezembro de 1968. As páginas censuradas durante a ditadura militar e nunca publicadas estarão disponíveis tal qual foram planejadas. O leitor poderá ver como o jornal desafiou a censura publicando versos de Camões nos espaços deixados pelas reportagens barradas.
A digitalização dá sequência a um histórico de inovações tecnológicas que sempre marcou a trajetória do Estado. Uma das primeiras foi a contratação da agência de notícias Havas, atual France Presse, pelo jornalista Julio Mesquita, o patriarca da família proprietária da empresa.
O acervo torna possível a consulta dos relatos enviados pelo escritor Euclides da Cunha sobre a Guerra de Canudos, ainda nos primeiros anos da República, no interior da Bahia. O trabalho deu origem ao clássico da literatura brasileira Os Sertões.
Um conversor de valores vai auxiliar o internauta a calcular preços de produtos anunciados em diferentes épocas.
Digitalização. Até recentemente, o trabalho dos pesquisadores interessados em consultar jornais antigos exigia tempo e disposição para folhear originais de papel, em volumosas coleções encadernadas guardadas em bibliotecas. Havia ainda a dificuldades de reprodução e organização, barreiras agora superadas com a possibilidade de fazer buscas pela internet nos arquivos digitalizados.
Perfiladas, as páginas do acervo do Estado cobririam 1.440 km, distância entre São Paulo e Vitória da Conquista (BA). Encadernados, os volumes ocupam 230 metros, altura de um prédio de 76 andares.
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Artigo de Ferreira Gullar na Folha de S. Paulo de 20 de maio de 2012 sobre o livro do "Diário Carioca", de Cecília Costa (indicado neste Blog).


Um pequeno grande jornal

O 'Diário Carioca' introduziu no jornalismo brasileiro a técnica redacional norte-americana do lide e sublide


O "Diário Carioca" (1928-1965) nunca esteve entre os grandes jornais brasileiros mas, ainda assim, marcou época e contribuiu para a modernização de nossa imprensa. É o que está evidente no livro que Cecília Costa acaba de publicar e cujo título diz exatamente isso.

Conforme nos conta, foi por acaso que soube desse jornal, de que mal ouvira falar, já que ninguém o lia em sua casa. Foi atrás, pesquisou, ouviu jornalistas que nele haviam trabalhado e nos deu um livro feito com indiscutível empenho, rico de informações e pleno de lucidez.

O assunto também me diz respeito, muito embora o "DC" nada me deva. Muito pelo contrário, fui eu que muito aprendi no pouco tempo em que ali trabalhei. Lembro esse tempo com muito prazer e saudade, uma vez que nunca pertenci a uma Redação de gente tão bem-humorada quanto aquela. Esse bom humor se refletia nos textos, nos títulos e às vezes na escolha dos assuntos noticiados. O principal responsável por isso era Luiz Paulistano.

Já me referi, aqui mesmo, noutras crônicas, a esse ambiente de camaradagem que nos contaminava a todos. Mas o "DC" não se limitou a isso: implantou no jornalismo brasileiro a técnica redacional norte-americana do lide e do sublide, que veio substituir, em nosso jornalismo, o velho "nariz de cera".

A nova técnica introduzia o leitor de imediato no fato que estava sendo noticiado, já que, em dois parágrafos de quatro linhas cada, saberia o fato que se queria contar, quem era o autor da ação, onde e quando ocorrera e por quê, se fosse o caso.

Mas o livro de Cecília Costa não se limita a nos contar a história do "Diário Carioca". Vai adiante ao nos informar do desdobramento que aquela experiência jornalística conheceu, quando alguns daqueles redatores transferiram-se para o "Jornal do Brasil", em 1958, no momento em que se iniciou a renovação do velho jornal, então transformado num veículo de anúncios classificados. Nem Redação tinha mais, e as notícias eram transcrições do que publicava a agência oficial do governo federal.

A renovação do "Jornal do Brasil" começou, de fato, com o suplemento literário (o "SDJB"), criado por Reynaldo Jardim no ano de 1956. O êxito desse suplemento estimulou a condessa Pereira Carneiro, sua proprietária, a renovar o próprio jornal. Chamou Odylo Costa Filho para fazê-lo.

O acaso, como se sabe, é um fator decisivo na existência dos fatos e das pessoas. E assim foi que, por acaso, fui parar na Redação do "JB", por indicação de Carlos Castelo Branco. É que, àquela altura, já o "DC" atrasava pagamento dos salários, e eu necessitava daquela grana para as despesas da família.

Assim foi que, por acaso, me tornei chefe do copidesque do "JB". Para compô-lo, sugeri a Odylo a contratação de dois redatores: Jânio de Freitas e José Ramos Tinhorão, ambos ex-colegas meus no "DC". A vinda de Jânio -que era meu amigo desde quando trabalhamos na revista "Manchete"- foi decisiva.
Com a colaboração de Amílcar de Castro, começou uma revolução gráfica no "JB". Já falei aqui, mas acho importante repetir: naquela época, as primeiras páginas dos jornais eram ocupadas por matérias que continuavam nas páginas de dentro, quaisquer páginas.

Jânio mudou isso, ocupando a primeira página com resumos das notícias principais, que estariam completas numas mesmas páginas, conforme o assunto. Isso obrigou a escrever as matérias em tamanho definido. Assim nasceu o papel diagramado: cada redator tinha que ater-se a um número exato de linhas.

O jornal ganhou em organização e em clareza. Pode ser que exagere. A verdade, porém, é que os demais jornais pouco a pouco absorveram essas inovações surgidas no "Jornal do Brasil".

Cabe ressaltar que uma parte importante do livro de Cecília são depoimentos que nos mostram, sem mistificação, o que eram os jornais daquela época.