segunda-feira, 22 de abril de 2013

"Rádio Fluminense FM, a porta de entrada do rock brasileiro nos anos 80", Maria Estrella (disponível no kindle)


Acompanhei bem a Fluminense FM, a Maldita. Dois de meus grandes amigos de infância, Sergio Vasconcellos e Amaury Santos, estavam entre os principais criadores. Algumas vezes fui a Niteroi para ouvir ao vivo e emprestar discos. Inovando como fez a rádio, o livro também está disponível no kindle. Clique aqui.

Aliás, a Folha de S. Paulo de ontem fez uma interessante reportagem sobre os ebooks. Leia.

Livro virtual fortalece pequenas editoras
Custo zero com impressão e transporte é vantagem; no exterior, minieditora publicou "Cinquenta Tons de Cinza"
Pequenas se concentram em distribuir e-books a lojas como a Amazon; no Brasil, são alternativa às editoras tradicionais
RICARDO MIOTODE SÃO PAULO
Com o crescimento do mercado de e-books, os custos reduzidos de operação de uma editora virtual, que não tem gastos com impressão e logística, devem fortalecer as pequenas empresas do setor.
O assunto chama a atenção da Câmara Brasileira do Livro, tradicional entidade do setor. O livro digital será protagonista do seu próximo congresso, em junho.
O debate surge porque o e-book está, talvez tardiamente, despertando no Brasil. O país tem, hoje, 11 mil títulos digitais. Reino Unido e EUA já passaram de 1 milhão. No mercado norte-americano, os digitais já representam 22% dos gastos com livros.
No exterior, pequenas empresas se especializaram em oferecer a autores em busca de fama a distribuição dos seus livros para aparelhos como o Kindle e o iPad.
Elas viraram sensação depois que uma delas, a obscura Writer's Coffee Shop, distribuiu às lojas virtuais dos e-books "Cinquenta Tons de Cinza", romance erótico sobre sadomasoquismo escrito pela produtora inglesa de TV Erika Leonard James.
O boca a boca -ou, no caso, o "teclado a teclado"- fez o serviço -e o livro, que saiu diretamente em formato virtual- virar uma sensação.
Só quando o barulho já era grande uma editora tradicional entrou no jogo.
No Vale do Silício, outras pequenas empresas já conseguiram dinheiro de investidores para se especializar em oferecer o serviço de distribuição virtual a autores que não conseguem -ou não querem- publicar por uma editora tradicional.
Essas empresas também ajudam o autor a conseguir um número ISBN, que é o cadastro no sistema de registro internacional de livros. O autor, que negocia com a editora virtual qual fatia das vendas ficará para ela, pode até escolher o preço do seu livro.
Desnecessário dizer que a grande maioria dos livros fica muito longe de virar um "Cinquenta Tons de Cinza". Mas os dados da Amazon, maior vendedora de livros virtuais nos EUA e no Reino Unido, mostram que o título não é o único caso de livro autopublicado -ou seja, sem uma editora tradicional, mas utilizando os serviços de uma distribuidora virtual- que faz sucesso.
Em 2012, 15 dos 100 livros mais vendidos pelo site foram publicados assim. A Amazon e a Apple têm se esforçado para fazer os autores irem diretamente a eles, cortando os intermediários e, assim, os preços. Jornais como "New York Times", que tradicionalmente não resenhavam livros "independentes", mudaram a sua política.
BRASIL
No Brasil, já há pequenas editoras oferecendo o serviço de edição digital. Duas delas são a Digital Books Editora (digitalbookseditora.com.br) e a KBR Editora (kbrdigital.com.br).
Elas cobram para dar ao livro um ISBN, uma capa e uma comercialização na Amazon, na Livraria Cultura virtual e na Saraiva.com.br, entre outras lojas -no caso da Digital Books, R$ 245; na KBR, o preço varia conforme o título.
Entre os livros já publicados, Noga Sklar, editora da KBR, cita, por exemplo, "O Rabino e o Psicanalista", coletânea de contos de temática judaica de Rosane Chonchol, que já vendeu cerca de 2.000 cópias na Amazon. "Para o mercado brasileiro, é muito expressivo", diz Sklar.
Para quem quiser vender o livro apenas na Amazon, é possível ainda utilizar o serviço de edição próprio dela, o Kindle Direct Publishing. Não há revisão nem nenhum tipo de apoio técnico, e o livro também não recebe ISBN.
Não é possível saber se surgirá em algum momento um e-book best-seller brasileiro como "Cinquenta Tons de Cinza" longe das grandes editoras. Mas vale lembrar que, no mercado de entretenimento nacional, músicos e comediantes descobriram que não é impossível fazer sucesso sem grandes gravadoras ou produtoras.
No Brasil, um exemplo recente é o canal independente de humor "Porta dos Fundos", cujos vídeos costumam ter mais de 2 milhões de espectadores da internet.

Críticos apontam falta de qualidade editorial
DE SÃO PAULOEmbora as pequenas editoras estejam fazendo sucesso no exterior, os críticos de livros americanos têm apontado falta de critério na publicação de livros por essas novas empresas virtuais.
Em artigo em abril do ano passado, por exemplo, a crítica Sarah Fay, da revista "The Atlantic", causou polêmica ao dizer que essas editoras têm sido "aglutinadoras de mediocridade".
Para ela, "esses e-books com frequência sofrem com escrita ruim e muitos erros de inglês. As editoras tradicionais têm as suas limitações, mas a boa literatura ainda precisa de editores, agentes, revisores e designers".
Javier Celaya, especialista espanhol em publicações digitais que virá ao Brasil para o congresso da Câmara Brasileira do Livro, concorda que "uma editora que não cuida das suas versões digitais está colocando o seu futuro em perigo", mas acha que o mercado tende a se ajustar.
"Em design, por exemplo, diria até que, nos últimos meses, tenho visto mais inovações na tela do que no papel."
Essa discussão deve chegar rapidamente ao Brasil. Em dezembro, estrearam no país a Amazon, a Kobo (parceira da Livraria Cultura no mundo digital) e a venda de e-books nacionais pelo Google Play.
A Apple já estava no mercado desde outubro e é líder -há 3 milhões de iPads e iPhones no país, mas o Kindle, da Amazon, alcança só dezenas de milhares de leitores.
As grandes editoras estão dedicando grande atenção ao mercado. Mas isso não significa que as pequenas não possam concorrer, diz Celaya.
"Na era digital, toda editora, independentemente do tamanho, pode distribuir até em nível global."




sábado, 20 de abril de 2013

"História das livrarias cariocas", de Ubiratan Machado. O livro, o texto do Globo

O delicioso caderno "Prosa & Verso" do Globo publicou hoje quase três páginas sobre o livro "História das livrarias cariocas". Não vi ainda e gostei. Preço salgado. Vou comprar quando ganhar um extra. Recomendo mesmo sem ler. Quer saber detalhes de preço etc, clique aqui. Quer saber mais sobre o livro, leia no Globo.


Imagem ilustrativa

quarta-feira, 17 de abril de 2013

"Por trás da notícia, o processo de criação das grandes reportagens", Edson Flosi


Um aluno descobriu pesquisando sobre New Journalism na minha aula e achei interessante. Já encomendei o meu exemplar via internet e em breve comento aqui no nosso blog. Vejam a pequena sinopse publicada no site da Livraria da Travessa:

"Autor de mais de 500 reportagens assinadas e publicadas em grandes veículos da imprensa, Edson Flosi apresenta neste livro uma amostragem histórica do jornalismo à moda antiga. Reproduz o texto integral de 15 grandes reportagens publicadas no Jornal da Tarde e na Folha de S.Paulo entre as décadas de 1960 e 1980, acrescidos de imperdíveis comentários sobre seus bastidores, além de preciosas dicas de a puração, processo de criação e produção das matérias."

Para saber mais, clique aqui.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

"Repórter no volante", Sylvia Moretzsohn



Está sendo lançado. É sobre histórias de motorista de redações. Já encomendei meu exemplar. Convivi com muitas dessas feras e mostro aqui para quem quiser e tiver tempo de ler uma crônica que escrevi sobre o saudoso Dodô do Globo. 

Dodô e o Judas

"QUEM TRABALHOU NO GLOBO, na década de 70, lembra dele. Chamava os filhos do homem de Robertinho, Joãozinho e Zezinho e dizia que tinha sido motorista do velho Irineu. Dr. Roberto era Dr. Roberto. Mas quando era demitido e precisava do apoio do homem, virava Roberto mesmo. Certo dia, numa dessas vezes, interpelou o patrão com sua voz miúda:

- Roberto, aquele filho da puta do meu chefe me demitiu mais uma vez...
E chorou diante do nosso saudoso ex-companheiro, que sempre arranjava um jeito de contornar a situação.

Tinha o hábito de dormir no carro da reportagem, assim que chegava para trabalhar. Já no final da carreira, era escalado para fazer a madrugada. Pequenas tarefas como buscar algum repórter retardatário no centro da cidade ou pegar o mapa do tempo.

Como já era um sexagenário (ou seria um septuagenário? Não sei direito) costumava esquecer que o Rio de Janeiro mudara bastante, e ignorava os túneis Santa Bárbara e Rebouças. Uma corrida para o Leblon, por exemplo, era um verdadeiro tour pela cidade: descia pela rua Marquês de Pombal, entrava pela rua do Riachuelo, Lapa, Glória, Flamengo. Aterro? Nem pensar? Ia mesmo por Botafogo, Túnel Novo, Copacabana, Ipanema, e, finalmente, Leblon. Os “focas” estranhavam, mas ficavam calados. Os veteranos avisavam logo ao sair:

- Dodô: vamos ao Leblon, mas pelo túnel, tá bom?

Um dia, quando saiu para buscar o mapa do tempo, desapareceu. Meia-hora, uma hora, duas horas... nada do Dodô. O saudoso Deodato Maia, secretário de Redação, acostumado com os sumiços da figura, deu aquele grito característico que costumava acordar até o Zé Luiz (um negão que quebrava todos os galhos na redação, e que também tinha o hábito de dar as suas cochiladas):

- Cigarrinhoooooooooooooooo! Corre atrás do Dodô que ele sumiu.

Cigarrinho, outro faz-tudo da redação, não precisou ir longe. Bastou virar a rua Irineu Marinho para avistar, de longe, a antiga Rural parada na esquina de Marquês de Pombal com Mem de Sá: no volante, dormindo, Dodô.

Uma vez, ficou mais de um mês sem falar com os colegas de trabalho – aí incluído motoristas, repórteres, fotógrafos, chefes e até o pipoqueiro que fazia ponto na porta do Globo. Também, pudera. Era época de malhação do Judas, e alguém arranjou um boneco daqueles. Os carros da reportagem eram as antigas Brasília de quatro portas. Um sacana colocou o Judas no banco de trás da Brasília, tocou no ombro de Dodô e determinou:

- Dodô: vamos para Copacabana.

Às gargalhadas, os outros sacanas acompanharam Dodô ligar o carro e seguir caminho em direção à Rua Riachuelo. Souberam depois que, ao atravessar o Túnel Novo, naquele tour característico, Dodô, olhou pelo retrovisor e perguntou:

- Que rua de Copacabana? “

Silêncio total.

- Que rua de Copacabana, pô? – insistiu.

Na terceira, virou-se para trás e viu o boneco estendido no banco. Dizem que Copacabana inteira ouviu o grito:

- Filhos da puta!!!!

"Pimenta Neves, uma reportagem", Luiz Octavio de Lima


Como costumo dizer aos meus alunos na faculdade, leio tudo que é livro que tem como título a palavra Jornalismo, Repórter, Reportagem, Imprensa etc. E não poderia ser diferente com esse livro sobre o Pimenta Neves, que acabo de encomendar. Abaixo a sinopse publicada na Livraria da Travessa.

"No dia 20 de agosto de 2000, o diretor de redação do jornal O Estado de S. Paulo, Antônio Pimenta Neves, de 63 anos, matou a namorada Sandra Florentino Gomide, editora da área econômica, de 32, com um tiro nas costas e outro na cabeça, quando ela se preparava para montar seu cavalo Oceano, no Haras Setti em Ibiúna.

O assassinato de Sandra marcou também o fim da carreira extraordinariamente bem-sucedida de Pimenta Neves e foi amplamente coberto pela imprensa nacional. Passados 12 anos do crime, com o criminoso finalmente cumprindo sua pena em Tremembé, no interior de São Paulo, havia ainda muito a desvendar sobre a vida do jornalista, seu relacionamento com Sandra, as origens de ambos e os fatos que culminaram com a tragédia conhecida de todos.

Em Pimenta Neves – Uma Reportagem, não apenas são detalhadas as circunstâncias do crime, mas traçado um relato biográfico daquele que o cometeu. Com base em extensa pesquisa, acesso aos documentos do processo e do julgamento, e cerca de 100 entrevistas - algumas no exterior –, foi recuperada sua trajetória de vida, do berço familiar em Batatais e Araraquara, onde o jornalista iniciou amizades de toda a vida com personalidades da vida cultural como Ignácio de Loyola Brandão, José Celso Martinez Corrêa e tantos mais, a sua vivência em importantes redações - inclusive como correspondente do Estadão nos primeiros momentos de Brasília, ao lado de Vladimir Herzog –, e suas experiências como correspondente internacional e diretor do Banco Mundial, em Washington."

domingo, 31 de março de 2013

Deu no Globo: "O ocaso da Biblioteca Nacional"

Claro que uma matéria sobre os problemas da Biblioteca Nacional como a publicada na Revista do Globo de hoje é assunto aqui no Blog Livros de Jornalismo. Para ler é só passar a mãozinha nas páginas.









sábado, 16 de março de 2013

domingo, 10 de março de 2013

"REALIDADE, a história da revista que virou lenda", Mylton Severiano



Há meses que esperava a divulgação do lançamento desse livro. Li todos os livros sobre a REALIDADE e já tentei fazer dois blogs com meus alunos: Virou Realidade e Realidade Revista.

Já encomendei o meu exemplar no site da Editora. Cliquem aqui.

Leiam a materinha que deu ontem na Folha de S. Paulo.
Livro resgata os bastidores da 'Realidade'
Obra do ex-redator Mylton Severiano inclui informações inéditas do criador da revista
DA COLUNISTA DA FOLHA
O jornalista Paulo Patarra guardou por 40 anos uma caixa de papelão amarelo da Kodak, com cartas, bilhetes e fotos dos tempos em que dirigia a "Realidade", referência de jornalismo nos anos 1960.
Antes de morrer, em 2008, entregou o material a Mylton Severiano, o Myltainho. O antigo redator da revista, como Patarra sabia, estava àquela altura escrevendo um livro sobre a publicação.
Esse material, somado a um "diário de bordo" sobre os 16 primeiros números, também deixados pelo diretor, são a maior riqueza de "Realidade: A História da Revista que Virou Lenda", que Myltainho lança agora pela catarinense Insular. Especialmente pelo ineditismo.
A publicação, afinal, já foi tema de estudos a perder de vista, além de ter sido retratada por outros ex-membros da equipe, como José Hamilton Ribeiro e José Carlos Marão, organizadores de "Realidade Re-Vista" (Realejo, 2010).
Como todo remanescente da revista gosta de lembrar, a "Realidade" foi lançada em 1966 com um projeto singular bancado pela editora Abril -mensal, ambicionava dar conta de assuntos do momento em grandes reportagens, sem perder a atualidade.
Entravam nas edições histórias tão variadas como a cobertura fotográfica de um parto, por Claudia Andujar, ou o premiado perfil dos meninos de rua do Recife, por Roberto Freire (o terapeuta).
O fato de ninguém ali ter certeza de como seria o resultado, eles dizem, ajudou. Assim como, é claro, contar com reportagens de nomes como Luiz Fernando Mercadante e o escritor João Antônio.
No auge, a revista chegou aos 500 mil exemplares vendidos em bancas, em plena ditadura, dando um jeitinho de ser provocativa sem incomodar demais os militares.
Mas a fórmula, como anotou Patarra em 1968, a certa altura deixou de funcionar: "Os generais pediam (depois iam impor) que Realidade se autocastrasse". Pouco depois ele deixaria a revista, acompanhado por mais de dez membros da equipe.
A "Realidade" sobreviveria até 1976, com menos impacto. Myltainho, no livro, encerra sua história em 1968.

REALIDADE: A HISTÓRIA DA REVISTA QUE VIROU LENDA
AUTOR Mylton Severiano
EDITORA Insular
QUANTO R$ 49 (320 págs.)

"A revista no Brasil do século 19", Carlos Costa; e "Modernismo em revista", Ivan Marques

Dois livros que também merecem uma espiadinha, apesar de me parecerem um pouco "acadêmicos" pro meu gosto, e que foram destaques em matéria na capa do caderno "Ilustrada" da Folha são esses dois. Leiam mais abaixo.

Revistas revistas
Dois novos livros contam história de publicações jornalísticas brasileiras desde o século 19
RAQUEL COZERCOLUNISTA DA FOLHA
Não fosse a assinatura do poeta Olavo Bilac (1865-1918), seria fácil confundir o trecho a seguir com algo escrito por estes dias: "O público tem pressa. A vida de hoje, vertiginosa e febril, não admite leituras demoradas, nem reflexões profundas".

A análise saiu na "Gazeta de Notícias", no Rio, em 13 de janeiro de 1901. Àquela altura, já havia quem ficasse nostálgico ao recordar os bons tempos do jornalismo.
Não que antes os homens da imprensa no Brasil soubessem bem onde estavam pisando.
Ou que depois o jornalismo não tenha oferecido algumas de suas melhores e mais profundas reflexões.

Dois livros que saem agora no país ajudam a traçar, com diferentes recortes, o nascimento, as transformações e o impacto de um formato jornalístico que sempre deu margem a textos mais densos, o de revistas.

A trajetória da imprensa ao Brasil, da primeira tipografia que aportou no país em 1808, junto com a corte portuguesa, até os primeiros casos bem-sucedidos do gênero, é o tema de "A Revista no Brasil do Século 19", de Carlos Costa, recém-lançado pela Alameda.

Ainda neste mês, a Casa da Palavra coloca nas livrarias "Modernismo em Revista: Estética e Ideologia nos Periódicos dos Anos 1920", de Ivan Marques -este focado especificamente na produção que repercutiu a Semana de 22.

Em comum, tanto as revistas do século 19 quanto as publicações modernistas dos anos 20 do século passado tendiam a durar pouco: como não existiam fórmulas, o jeito era seguir na base da tentativa e do erro.

Escrito como tese de doutorado para a Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), com base em ampla pesquisa nos arquivos da Fundação Biblioteca Nacional, o livro de Carlos Costa partiu de premissa arriscada -a de, antes de tudo, identificar o que era jornal e o que era revista nos anos 1800.

Com o jornalismo ainda nascente, não existiam as nomenclaturas de hoje. Para Costa, as definições ficaram claras a partir de 1870, com a invenção do telégrafo: jornal era o que repercutia notícias imediatas; revista era o que buscava aprofundá-las.

Antes disso, existiam algumas pistas, como as ilustrações, historicamente ligadas às revistas: foi nelas que grandes desenhistas, como o italiano Angelo Agostini (1843-1910) e o português Rafael Bordallo (1846-1905) fizeram história no país.

Foi nas revistas que primeiro apareceram nomes como Casimiro de Abreu e Machado de Assis -ambos trabalhavam para Francisco de Paula Brito na "A Marmota na Corte", de 1849, uma das mais importantes do período.

Não que o trabalho de redatores fosse reconhecido àquela altura. "Na verdade, era possível encontrar pistas dos autores dos textos. Mas a maior parte usava pseudônimos. Não havia esse conceito de autor de texto jornalístico, de reportagem assinada", afirma Costa.

Um dos casos mais famosos, ele lembra, foi um virulento ataque contra o jornalista português Luis Antonio May (editor da "Malagueta"), publicado em 1823 em "O Espelho". O autor, que se refere ao desafeto com termos chulos sobre suas preferências sexuais, seria d. Pedro 1º, segundo a historiadora Isabel Lustosa.

Outras publicações, como a "Semana Illustrada", de 1860, ajudaram a consolidar o formato que se firmaria por décadas, de revistas com oito páginas, intercalando textos e ilustrações. Esta ficaria conhecida pela profissional cobertura da Guerra do Paraguai (1864-1870), com ilustrações feitas a partir de fotos.

Para Costa, a maior importância daquelas publicações foi consolidar a identidade de um país em formação. "No início do século 19, ninguém era brasileiro. Eram todos nascidos no Brasil colônia, portugueses. Foi por meio da imprensa que esse país encontrou sua cara", diz.

MODERNISTAS
No início da década seguinte, nos anos 20, a imprensa ajudaria também a dar a identidade que os modernistas buscavam.

Ao estudar sete publicações do gênero dentre as dezenas que pipocaram pelo país naquele período, o crítico literário Ivan Marques se impressionou ao perceber que, ao contrário do que se esperaria de uma vanguarda, as revistas modernistas tinham mais um aspecto construtivo que de destruição.

"Em 'Klaxon', a primeira delas, criada em 1922, ainda há esse espírito destruidor, mas ele se dilui ao longo da década. A 'Verde', em 1927, e 'A Revista de Antropofagia', em 28, tentaram de algum modo restaurar esse espírito iconoclasta", diz.

Para Marques, as revistas -onde primeiro publicaram nomes como Carlos Drummond de Andrade- são o testemunho vivo de um dos períodos mais agitados da cultura brasileira. "Elas mostram, entre outras coisas, que o modernismo não se limitou à Semana de Arte Moderna, e menos ainda à cidade de São Paulo."

A REVISTA NO BRASIL DO SÉCULO 19
AUTOR Carlos Costa
EDITORA Alameda
QUANTO R$ 66 (456 págs.)

MODERNISMO EM REVISTA
AUTOR Ivan Marques
EDITORA Casa da Palavra
QUANTO a definir (176 págs.)

    segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

    "O chalé da memória", Tony Judt


    Não é um livro de jornalismo ou sobre o jornalismo, mas é um livraço. Deliciosas 222 páginas. Judt foi um baita historiador, autor do clássico "Pós-Guerra". Vale a pena conferir. Para saber mais, clique aqui.

    quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

    "Entre sem bater - A vida de Apparício Torelly, o Barão de Itararé", Cláudio Figueiredo


    Li em dois dias, no Natal, as maravilhosas 479 páginas desse livraço dessa figuraça conhecida como Barão de Itararé. Leiam já.

    terça-feira, 18 de dezembro de 2012

    "Chaplin e outros ensaios", Carlos Heitor Cony


    Não é bem um livro de Jornalismo, mas é Cony. E Cony dispensa apresentação. Li quase todos os livros dele, sempre que posso leia sua coluna na Folha e começo a ler este. Aula de escrita, como sempre. Para saber mais, clique aqui.

    "Entre sem bater - A vida de Apparício Torelly, o Barão de Itararé", Cláudio Figueiredo


    Já está separadinho para ler. Recebi, dei uma espiadinha e gostei. Escrever sobre o Barão não tem erro.

    Pra saber mais detalhes, clique aqui.

    sábado, 1 de dezembro de 2012

    "Irineu Marinho - Imprensa e Cidade", de Maria Alice Rezende de Carvalho. Resenha de Paulo Cezar Guimarães no Globo


    Escrevi para o caderno "Prosa & Verso" a resenha do livro "Irineu Marinho - Imprensa e Cidade", de Maria Alice Rezende de Carvalho. Livraço.


    Para ler a resenha no blog do caderno "Prosa & Verso", clique aqui.

    Para saber detalhes e comprar o livro, clique aqui.

    sábado, 24 de novembro de 2012

    Livro sobre Irineu Marinho será lançado na quinta-feira, dia 29


    Estou lendo e recomendo. Em breve mais informações.

    "Memórias de um sobrevivente - a verdadeira história da ascensão e a queda da Manchete", Arnaldo Niskier

    Nunca trabalhei na Manchete. Fiz alguns frilas para a "Fatos e Fotos" no início da carreira. Mas já li dois livros sobre a revista (um deles do meu camarada José Esmeraldo Gonçalves) e li matéria e resenha sobre o livro do Niskier na Folha de hoje (ver abaixo). Para saber preço e sites de livrarias que estão vendendo, clique aqui.


    Apogeu e queda da revista 'Manchete' é tema de livro
    Volume narra a trajetória da empresa de comunicação criada por Adolpho Bloch
    Arnaldo Niskier, autor da obra, trabalhou por 37 anos no grupo e diz que investimento na TV foi a causa da derrocada
    FABIO BRISOLLADO RIO
    Corria o ano de 1955 quando um repórter iniciante da revista "Manchete Esportiva" tomou uma atitude ousada: pediu ao todo-poderoso Adolpho Bloch, dono à época de amizades influentes e de um conglomerado de comunicação, que fosse seu fiador em um apartamento que iria alugar.
    Mesmo sendo um desconhecido para o dono da editora, o jovem funcionário conseguiu o avalista, que fez uma ressalva: "Se você não pagar [o aluguel em dia], corto seus ovos, hein!".
    Quase 60 anos depois, a história é uma das muitas contadas por Arnaldo Niskier, hoje membro da Academia Brasileira de Letras, no livro "Memórias de um Sobrevivente - A Verdadeira História da Ascensão e Queda da Manchete".
    Niskier dedica o livro aos 1.800 funcionários das empresas Bloch que, em 2000, tiveram suas atividades "abruptamente encerradas" por conta de um pedido de falência do grupo feito à Justiça.
    O grupo Bloch publicava as revistas "Manchete", "Fatos e Fotos", "Ele & Ela", "Amiga" e "Desfile". Além da editora, faziam parte da organização gráficas, emissoras de rádio e uma rede de TV.
    O escritor e jornalista acompanhou de perto o auge e o declínio do grupo de comunicação criado por Adolpho Bloch, judeu de origem russa que deixou seu país após a Revolução de 1917 e desembarcou no Rio em 1922.
    "O Adolpho foi o maior brasileiro nascido na Rússia. Ele era um patriota, que amava o Brasil", elogia o autor, que trabalhou por 37 anos nas publicações da editora. Começou como repórter e chegou à direção da revista "Manchete".
    No auge, entre os anos 1970 e 1980, a revista "Manchete", principal publicação do grupo, chegou a atingir uma tiragem semanal de 350 mil exemplares.
    Suas edições especiais de Carnaval, repletas de fotos dos bailes e desfiles do Rio, esgotavam em poucas horas.
    Niskier conta que a editora acumulava US$ 25 milhões em caixa até que Bloch decidiu investir em uma emissora de TV. "Foi o grande erro dele", avalia. "Apenas com a aquisição de filmes, gastou US$ 16 milhões."
    A Rede Manchete foi inaugurada em junho de 1983, iniciando a partir daí uma trajetória com alguns acertos, como a novela "Pantanal" (1990), e muitos programas de baixa audiência.
    Em 1999, a concessão da emissora foi vendida para o empresário Amílcare Dallevo, que fundou com Marcelo de Carvalho a RedeTV!.
    A troca de comando também marcou o início de uma disputa judicial para decidir se os novos donos herdariam as dívidas da emissora.
    Bloch morreu em novembro de 1995, antes de seu império chegar ao fim.
    Pressionado pelas contas a pagar após lançar a TV, ele desconcertava seus interlocutores com algumas de suas frases características, como "Ouço todo mundo, mas só faço o que quero" e "O dinheiro é uma simples questão de contabilidade".

    CRÍTICA JORNALISMO
    Escritor revê trajetória em tom épico
    Apesar de crítico à gestão idiossincrática da família Bloch, trabalho deixa de lado temas espinhosos
    ELEONORA DE LUCENADE SÃO PAULOO império de Adolpho Bloch foi um colosso. Tinha rede de TV, rádios, revistas, parque industrial e quase 7.000 funcionários no seu auge, entre os anos 1980 e 1990. Sua telenovela "Pantanal" conseguiu quebrar a hegemonia da Globo no horário nobre.
    Tudo se esboroou. Dívidas e erros de gestão afundaram o conglomerado. A saga dessa ascensão e queda ganha uma narrativa peculiar em "Memórias de um Sobrevivente", de Arnaldo Niskier.
    No livro, estão histórias de bastidores da empresa, cartas, discursos e fragmentos de textos publicados na principal revista do grupo, a "Manchete".
    Niskier, 77, trabalhou no grupo por 37 anos. Exerceu vários cargos de chefia e conviveu com o dono, Adolpho Bloch (1908-1995). Desse posto privilegiado de observação, ele recorda momentos em que o chefe aparecia como generoso, irado, otimista ou teimoso.
    "Adolpho poderia ter saído de 'Guerra e Paz', o grande romance de Tolstói. Havia nele o sentimento épico da grandeza humana", diz.
    Para o escritor, que é membro da Academia Brasileira de Letras, a derrocada do grupo é resultado da "sucessão letal de equívocos" decorrentes do investimento em TV feito na década de 1980 -"um sorvedouro de dinheiro e de preocupações".
    Na sua avaliação, a empresa passou "a navegar às tontas, com um brinquedo caríssimo, que acabou sacrificando os até então bons resultados da mídia impressa. Os Bloch trocaram de rumo e bateram num pesado iceberg", afirma.
    Niskier conta que, no final da vida, Bloch "assinava cheques já sem saber direito o que estava fazendo". Depois que ele morreu, "os credores mudaram de atitude": veio o naufrágio final.
    A origem do grupo foi a indústria gráfica. O pai de Adolpho chegou a imprimir o dinheiro do governo provisório de Kerenski, na transição revolucionária na Rússia de 1917. Com a chegada dos bolchevistas ao poder, a família deixou o país.

    IMPÉRIO
    No Brasil, as bases do império foram sedimentadas pela revista "Manchete", que deixou de circular em 2000, após 48 anos. Como um pesquisador de arquivo, Niskier pinça reportagens e crônicas da publicação.
    O mosaico passa por Getúlio Vargas, Brasília, bossa nova, futebol. E por textos saborosos de Carlos Drummond de Andrade, Nelson Rodrigues, Carlos Heitor Cony, Carlos Lacerda, Joel Silveira.
    Niskier conta que Bloch resistiu ao investimento em TV e responsabilizava o sobrinho pela "desgraça na vida dele".
    Oscar, então vice-presidente do grupo, "tinha se empenhado muito pela concessão do canal, junto ao governo do general João Baptista Figueiredo, onde tinha alguns amigos", escreve.
    Em "Os Irmãos Karamabloch" (2008), Arnaldo Bloch, um dos herdeiros, foi mais mordaz: "Estava na hora de o regime militar retribuir à 'Manchete' os serviços de propaganda prestados ao Brasil Grande", escreve sobre a estratégia de parte da família.
    O endividamento não era visto como problema. Niskier cita um discurso do empresário de 1978, quando o império crescia: "Eu vivo no vermelho desde que nasci e é isso que me faz trabalhar e cumprir meus compromissos. Se eu estivesse no preto, não teria feito nada. Estou resolvendo todos os meus problemas com otimismo, porque acredito no Brasil Grande".
    Mas, em pleno Plano Cruzado, quando as dívidas começaram a apertar o grupo, Bloch foi pedir ajuda ao então presidente José Sarney.
    Queria um corte pela metade dos juros pagos ao Banco do Brasil. Diante da recusa, Niskier relata que o empresário saiu da sala e caiu em prantos, repetindo: "Nunca passei por uma humilhação tão grande!".
    Apesar de crítico à gestão idiossincrática da família Bloch, o livro em algumas partes transpira uma atmosfera oficial, deixando de lado temas espinhosos. Afirma que o empresário não aguentava ver algum amigo seu espinafrado pelas edições do grupo.
    Niskier nega que a empresa tenha recebido "empréstimos mirabolantes" para apoiar Juscelino Kubitscheck e o projeto de Brasília -cuja cobertura deu dimensão nacional à "Manchete". "Adolpho era admirador da ousadia, da coragem de JK e se identificava com ele", defende o autor.
    Depois do golpe de 1964, o autor conta que Bloch soube das dificuldades que JK passava no exílio. "Adolpho mandou-me duas vezes como emissário a Paris e a Nova York, levando US$ 7.000 para o ex-presidente", lembra.
    Niskier também revela casos que beiram o pastelão. Num deles, Bloch levou um soco de um operário a quem chamara de ladrão, por estar dormindo em horário de trabalho. "Eu estou errado, mas ladrão é o senhor", disse o funcionário.
    O empresário não demitiu o agressor. "Ele tinha razão. Eu não devia ter chamado ele de ladrão."

    MEMÓRIAS DE UM SOBREVIVENTE
    AUTOR Arnaldo Niskier
    EDITORA Nova Fronteira
    QUANTO R$ 49,90 (312 págs.)
    AVALIAÇÃO bom

    FOTOGRAFIA
    Acervo de imagens desapareceu
    Em 2010, o acervo fotográfico do grupo Bloch foi vendido por R$ 300 mil a um colecionador. Até hoje os ex-profissionais da Bloch não sabem onde as fotos, muitas delas históricas, estão guardadas, e nem se estão armazenadas em condições adequadas. Saiba mais em folha.com/no1189999.


      sábado, 29 de setembro de 2012

      "O melhor da Senhor/Uma senhora revista", Ruy Castro e Maria Amélia Mello


      Deu hoje na Folha. Para saber mais sobre o livro, clique aqui.

      Meus alunos da FACHA Méier fizeram um blog sobre a revista em 2008. Para dar uma espiadinha, clique aqui.

      "Exclusiva", resenha na Folha

      Para ler, clique na imagem.

      Estou lendo e recomendo. Deu hoje na Folha. Para saber mais sobre o livro, clique aqui.

      sexta-feira, 14 de setembro de 2012

      "Vertigem digital - por que as redes sociais estão nos dividindo, diminuindo e desorientando", Andrew Keen


      Estou lendo e recomendo. Li o outro livro dele, "O culto do amador", e também gostei muito. Boa reflexão sobre as redes sociais. Livro essencial para estudantes de Jornalismo. Acabou de ser lançado no Brasil.

      Para saber mais, clique aqui.

      quarta-feira, 22 de agosto de 2012

      "Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo", Mário Magalhães


      O Mário é meu camarada e recomendo sem ter lido ainda. Além disso, todos nós, especialmente meus alunos, precisam saber quem foi Marighella. Segundo a mensagem que me enviou, Mário Magalhães pesquisou por 9 anos a vida de Carlos Marighella, o guerrilheiro que se tornou um dos maiores inimigos da ditadura militar brasileira. A biografia chega nas livrarias em outubro.

      Quer saber mais? Clique aqui, aqui ou aqui.

      sábado, 4 de agosto de 2012

      "Tempo de reportagem", Audálio Dantas

      Tirei umas férias necessárias e merecidas, mas estou de volta aqui no nosso Blog. Para recomeçar uma dica que acabo de ler no site do Estadão. Audálio é um dos maiores jornalistas da história do Brasil. Vale a pena conferir.

      Para saber mais, clique aqui.

      Leiam abaixo a resenha de José Nêumane e a entrevista com Audálio que estão no site do Estadão.

      'Tempo de Reportagem' reúne melhores textos do jornalista Audálio Dantas

      Foram coletadas reportagens de Audálio publicadas pela revista 'O Cruzeiro' e 'Realidade'


      José Nêumanne
      Em 8 de julho, Audálio Dantas fez 80 anos. Em 27 de junho, Vladimir Herzog teria completado 75 se não tivesse sido torturado até a morte nos porões da repressão, em 25 de outubro de 1975. Do encontro da biografia dos dois – o primeiro nascido em Tanque d’Arca, no sertão alagoano, e o outro, em Osijek, na Croácia, parte do Reino da Iugoslávia quando Vlado (no Brasil, o nome foi adaptado para o português) nasceu – ocorreu no momento em que a ditadura militar desabou sobre os próprios pés de barro. Entre o croata e o sertanejo criou-se, então, um vínculo histórico que foi além do fato de ambos terem feito brilhante carreira jornalística. Herzog foi o mártir cujo sangue derramado batizou a volta da democracia. Audálio, o homem certo no lugar certo para indicar o caminho a ser seguido nesse rumo.
      Parte da trajetória de Audálio, como se pode ler no texto acima, consta do livro Tempo de Reportagem, coletânea de seus melhores momentos de repórter. O maior destaque, claro, é a revelação em reportagem para a Folha de S.Paulo, em 1963, da catadora de papel Carolina de Jesus na Favela do Canindé, lançada para a glória literária com o sucesso de trechos de seu diário editados por ele no livro Quarto de Despejo. Foram coletadas reportagens de Audálio publicadas pela revista O Cruzeiro – caso da viagem, em 1963, a Canudos, na Bahia, cenário do clássico da literatura em português Os Sertões, de Euclides da Cunha. E registros selecionados do que ele escreveu, de 1970 a 1972, na revistaRealidade – da saga de catadores de caranguejo no mangue à rotina dos pescadores do Velho Chico.
      Nada disso pode, contudo, ser comparado ao passo que deu após ser escolhido para encabeçar a chapa para substituir a diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, que, sob a presidência de Adriano Campanhole, se mostrava pouco disposta a enfrentar o regime militar no começo dos anos 1970. Sua vitória foi fundamental para que a entidade reagisse com firmeza e serenidade à violência cometida contra um colega que nada tinha que ver com a guerra suja.
      Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, Herzog foi teatrólogo, professor da Faculdade de Comunicação da própria USP e fez carreira de destaque como jornalista, tendo trabalhado em vários veículos, entre os quais este O Estado de S. Paulo e a BBCde Londres, até ser nomeado diretor de jornalismo da TV Cultura. Em 24 de outubro de 1975, foi convocado por agentes do Exército a dar esclarecimentos no DOI-Codi da Rua Tutoia. Apresentou-se no dia seguinte e de lá só saiu morto – sua foto, mostrando-o como que enforcado no próprio cinto, ganhou notoriedade.
      Herzog se tornou assim a primeira vítima de morte dos órgãos encarregados do combate à guerrilha dos grupos armados de extrema esquerda sem ter nenhuma ligação com tais grupos. Até então, a tortura em alta escala praticada pelo regime atingia esses combatentes. Herzog foi acusado de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), que era contra a luta armada.
      Sua morte pode ter resultado da sanha anticomunista dos agentes do Estado que atuavam no DOI-Codi de São Paulo, mas é mais provável que tenha sido usada pela linha dura como argumento contra o movimento da ala branda que promovia a abertura ampla e gradual no governo Geisel. O então governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins, era o alvo preferencial dos duros, que tentaram aproveitar-se do fato de ele ter nomeado o empresário e intelectual liberal José Mindlin secretário da Cultura e este, por sua vez, ter levado Herzog, e com ele um "ninho de comunistas", para uma emissora de televisão pública (para os militares, sinônimo de oficial).
      A declaração explícita de guerra da linha dura ao núcleo brando do regime revoltou a consciência cívica nacional, que então ficou sabendo que a violência do Estado não prendia, torturava e matava apenas os revolucionários que queriam tomar o poder pelas armas para instalar uma ditadura de esquerda. Para que isso ocorresse foi fundamental a ação conjunta de três homens: o rabino Henri Sobel, que se recusou a sepultar Herzog entre suicidas no cemitério judeu; o arcebispo dom Paulo Evaristo, cardeal Arns, que desafiou o regime convocando uma celebração ecumênica que lotou a Sé; e Audálio Dantas. O presidente do Sindicato dos Jornalistas teve o tirocínio e a coragem de levar a opinião pública brasileira de forma firme, mas serena, à consciência de que a luta contra a ditadura era de todos e não tinha acabado com o triunfo do Estado contra a extrema esquerda dizimada. Foi o começo do fim do arbítrio dividido.
      Em janeiro de 1976, o metalúrgico Manuel Fiel Filho, militante católico de esquerda, foi morto no mesmo DOI-Codi em que Herzog foi pendurado pelo cinto, o comandante do 2.º Exército foi exonerado com desonra e o colega de ofício da vítima Luiz Inácio Lula da Silva liderou greves no ABC. E o regime começou a ruir, sufocado pelo cinto de Herzog no pescoço, após ter feito a foice e o martelo sucumbirem a rajadas de metralhadora.
      Audálio Dantas foi um dos artífices dessa derrocada.

      Audálio Dantas: 'Podemos escrever como ficcionistas, mas não fazer ficção'

      Livro reúne 13 trabalhos antológicos da longa carreira do jornalista


      Luiz Zanin Oricchio - O Estado de S. Paulo
      Aos 80 anos, que não aparenta de jeito nenhum, Audálio Dantas é um mestre. Um mestre do jornalismo, sereno, incisivo e sem sinal de vaidade. Quem o conhece sabe da trajetória de vida exemplar. Das grandes reportagens em jornais e revistas O Cruzeiro e Realidade. Da coragem na condução do Sindicato dos Jornalistas em sua hora mais dramática, a do assassinato do jornalista Vladimir Herzog nos porões do DOI-Codi, durante a ditadura militar.
      Reportagem sobre 'maratona do beijo' foi incluída na coletânea - José Patrício/AE
      José Patrício/AE
      Reportagem sobre 'maratona do beijo' foi incluída na coletânea
      Dessa faceta de jornalista exemplar, temos uma boa amostra em Tempo de Reportagem, que a editora Leya lança agora. São 13 relatos pinçados por Audálio de um longo trabalho na imprensa na condição de repórter, daquele tipo que, como se diz no jargão do ofício, não pode ter medo de gastar as solas dos sapatos, pois é nas ruas que estão as boas histórias e não no ar condicionado das redações.
      Da atuação política ficaremos sabendo um pouco mais adiante, quando lançar A Segunda Guerra de Vlado Herzog, editado pela Civilização Brasileira e que chegará às livrarias em outubro. No livro, Audálio resgata a participação do Sindicato dos Jornalistas nesse episódio, marco trágico pelo assassinato de Vlado, mas também divisor de águas no enfrentamento da ditadura pela sociedade civil. Leia a seguir, a entrevista concedida por Audálio ao Sabático.
      De todos os textos que você publicou em sua longa carreira, escolheu 13 para esta coletânea. Com que critério fez a seleção?Eu já havia publicado um livro, O Circo do Desespero, título de uma das reportagens, com dez textos. Agora reuni mais dois, um sobre Carolina Maria de Jesus e outro sobre uma maratona do beijo, prova bastante parecida com a da maratona da dança, e que escrevi para a Playboy em 1993. Tirei também uma matéria chamada Restos, sobre pessoas que vivem do lixo, que acho demagógica. Mas há outra novidade. Para este livro, escrevi uma espécie de making of de cada reportagem. Quer dizer, uma apresentação de cada uma delas, uma reavaliação desses textos, alguns já antigos, pelo meu olhar contemporâneo. O interessante é que às vezes o making of é tão ou mais extenso que a reportagem em si.
      Desses, qual considera o mais importante?Sem dúvida, a reportagem sobre a Carolina Maria de Jesus, que teve repercussão imensa, mudou a vida da personagem e também a minha. É um texto do qual não gosto muito, mas ele tem essa importância. E é exemplo de como um repórter sai da redação atrás de uma coisa e pode encontrar outra, se estiver de olhos abertos. Eu saí para fazer reportagem sobre uma favela que estava se formando, no Canindé, na beira do Tietê, e descobri essa mulher que escrevia, mantinha um diário, tinha poemas e tudo o mais, e já andara por algumas redações de jornais tentando em vão chamar a atenção para o seu caso. Não gosto do meu texto, tem muito adjetivo, é até piegas. Serviu para revelar o caso e possibilitou a publicação do livro da Carolina. Tirou 100 mil exemplares, isso nos anos 50, e foi traduzido em vários países. O prefácio da edição em italiano é do Alberto Moravia.
      Há essa constante na maior parte das suas reportagens, a presença do povo como personagem, não é? Bem distante do jornalismo de celebridades atual. Você não tinha dificuldade em vender algumas dessas pautas?Sempre tive essa busca por assuntos de fundo social. O tempo era outro, ainda assim um editor me censurou por colocar negros e pobres como personagens. Por exemplo, no caso de O Circo do Desespero, era uma abordagem diferente na cobertura habitual do carnaval, os desfiles, as mulheres gostosas, os bailes. Aqui, o caso era outro. Eram miseráveis atrás do prêmio, que se matavam numa maratona de dança interminável. Por sorte, o editor de O Cruzeiro era um intelectual, um homem sensível, Odylo Costa, filho. Entreguei o texto e ele, do Rio, mandou um telegrama dizendo que havia chorado ao lê-lo. Como digo no livro, acho que foi o maior elogio que recebi em minha carreira de repórter.
      No entanto, o texto não é piegas...Sempre pretendo contar a história da melhor maneira, sem chantagear ninguém ou procurar comover.
      Mas os textos são impactantes, emocionam, fazem pensar. Buscam assuntos fortes.Há uma proximidade temática entre essa reportagem sobre a dança e a outra sobre a maratona do beijo, que fecha o livro. São parecidas por esse aspecto, o mundo cão, armado para explorar desesperados que tentam ganhar algo. Mas se reparar, no primeiro caso são miseráveis atrás de uma recompensa para garantir necessidades básicas, como alimento. No outro, já se disputava um automóvel, símbolo de status. No fundo, a mesma coisa, a exploração das pessoas, transformadas em espetáculo na sua agonia.
      A mais dura, me parece, é Juqueri - Nossos Desamados Irmãos Loucos. Que também traz uma inovação formal da técnica jornalística, um texto no qual se vê a compaixão pelo outro. Sim, para fazer uma reportagem desse tipo você tem de ser um observador. Mas precisa se identificar com o outro, com a dor do outro. Não existe neutralidade; tem o seu ponto de vista ali. E, quanto à forma, como aquele era um universo fragmentado, eu também escrevi em fragmentos, em flashes isolados, que faziam sentido no conjunto. Faço um tipo de jornalismo que não se enquadra naquele esquema do lead, das informações básicas, etc. Acho que se pode usar técnicas da literatura, como supor um determinado pensamento na cabeça de um personagem. Mas tenho receio de que a expressão "jornalismo literário" leve a pensar que estamos inventando algo, que estejamos fazendo ficção. O jornalista deve observar os fatos, ater-se às informações. Pode escrever como ficcionista, mas não fazer ficção. Deve também ouvir o máximo possível de pessoas, como fiz em Chile 70, logo após da eleição de Salvador Allende. Conversando com as pessoas de diferentes pontos de vista, percebia-se logo onde aquilo poderia dar. Não é algo que se faça num dia ou dois. Percorri o país de norte a sul, por mais de 3500 quilômetros e ouvi dezenas de pessoas antes de escrever.
      E quanto ao livro sobre o caso Herzog?A Segunda Guerra de Vlado Herzog eu estava devendo havia 37 anos. O caso já foi esmiuçado de vários ângulos, houve até filme, mas faltava destacar a atuação do Sindicato dos Jornalistas na ocasião. A resistência, o culto ecumênico na Catedral da Sé, toda a reação à morte do Herzog foi um desafio à ditadura, um divisor de águas no processo de liquidação do autoritarismo, e o nosso sindicato teve participação importante em tudo isso.
      Como você o escreveu?É uma história do Vlado, em sua parte biográfica. E a história daquele período e das circunstâncias que o levaram à morte. Eu não havia anotado nada. Levei ano e meio lembrando e escrevendo. Nas horas vagas, que se diga, pois não interrompi outras atividades profissionais para fazer esse livro. Fui lembrando. Parte dele é um diário em primeira pessoa, o resto é em terceira pessoa. Há esse lado íntimo, pessoal. Mas também entrevistei muita gente. Ouvi mais de 50 participantes dos fatos, José Mindlin, dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel, jornalistas que haviam sido presos antes do Vlado como Sergio Gomes da Silva, Paulo Markun, Duque Estrada, a Clarice Herzog. Enfim, é um livro que eu sentia que devia ser escrito.
       

      sábado, 14 de julho de 2012

      "Esse é meu tipo", Simon Garfield

      Para saber mais, clique aqui.

      Leia a matéria sobre o livro e o autor publicada hoje na Folha de S. Paulo.

      Livro compõe retrato curioso da tipografia
      "Esse É Meu Tipo", trabalho do inglês Simon Garfield, narra em tom jornalístico, para leigos, a evolução das fontes digitaisCLAUDIO ROCHA
      ESPECIAL PARA A FOLHA


      Este não é um livro técnico, pensado e escrito para designers gráficos -os usuários naturais das fontes digitais.
      O jornalista inglês Simon Garfield também não é um especialista no assunto, mas mostrou-se um observador atento ao descrever os vários aspectos da modernidade sob a ótica do design tipográfico no livro "Esse É Meu Tipo", que chega agora ao Brasil.

      No fundo, ele confronta o conceito de qualidade com a complexidade da comunicação visual contemporânea.

      As manifestações da tipografia no cotidiano normalmente interessam apenas aos profissionais.
      Com uma abordagem jornalística de fatos e personagens importantes ou curiosos da história antiga e recente da tipografia, o autor aproxima esse universo do leitor comum, ligado essencialmente ao conteúdo da mensagem.

      Entretanto, o computador pessoal transformou o leitor em usuário, obrigando-o a enfrentar as peculiaridades das fontes tipográficas sem muito preparo.

      RECURSOS TENTADORES
      O menu de fontes se apresenta repleto de opções de estilo e recursos tentadores, algumas vezes acessados inadvertidamente.

      O livro conta a história inusitada da funcionária de uma empresa de seguros de saúde que foi demitida por enviar um e-mail com o texto integral em letras maiúsculas, dando a entender que ela estava elevando o tom de voz na mensagem para o cliente.

      Em trabalhos profissionais, como logotipos, as fontes se transformam em matéria-prima fundamental para identificar empresas.

      A fonte Unity, usada no logotipo da famosa bola Jabulani, na Copa do Mundo de 2010, compôs também os números e nomes nos uniformes dos jogadores de seleções como Alemanha e Espanha, patrocinadas pela Adidas.

      Essa fonte foi desenhada por Yomar Augusto, citado de passagem no livro, sem mencionar que ele é brasileiro.

      É um exemplo de como o design tipográfico brasileiro tem evoluído, em quantidade e qualidade.

      EXPRESSIVIDADE
      O livro traz depoimentos dos criadores de fontes digitais e análises breves de tipos notórios, como a badalada Helvetica e a controversa Comic Sans, que alcançam públicos distintos, em condições diversificadas.

      Explica também por que as aplicações em sinalização viária ou em aeroportos privilegiam a legibilidade e a funcionalidade, enquanto em uma embalagem ou em uma capa de livro elas buscam, antes de tudo, expressividade e personalidade.

      Julgar os atributos formais das fontes e avaliar as sensações que um texto pode, e deve, expressar por meio das letras faz parte do trabalho de um programador visual.

      Após a leitura deste livro, contudo, o usuário comum se sentirá mais familiarizado com a linguagem tipográfica e com o senso crítico um pouco mais apurado.

      ESSE É MEU TIPO
      AUTOR Simon Garfield
      EDITORA Zahar
      TRADUÇÃO Cid Knipel
      QUANTO R$ 44,90 (360 págs.)
      AVALIAÇÃO ótimo
      CLAUDIO ROCHA é tipógrafo e coeditor da revista "Tupigrafia"