Clássico. Essencial. Fora de catálogo, mas de vez em quando reaparece em sebos virtuais e em sebos normais. Leiam abaixo a resenha de Ricardo Setti, com o título "Guerra, traições, mentiras, coragem, heroísmo. Um livro espetacular, que você não pode deixar de ler".
"Amigos, como este blog não tem compromissos com a chamada “indústria cultural”, os livros que pretendo indicar não são necessariamente os recém-lançados, os principais dos quais toda a imprensa comenta.
Mas vou falar de um livro que você precisa sair correndo para buscar nos sites de sebo da internet, como o excelente Estante Virtual. Trata-se de A Primeira Vítima, de Phillip Knightley. É um dos melhores livros que já li — sobre jornalismo, sobre a guerra, sobre História, sobre a condição humana. É um livro escrito em 1975 e lançado no Brasil em 1978. Mas você encontra facilmente pela Web.
Trata-se de um livro demolidor de mitos. Alguém ainda acredita que o correspondente de guerra seja, como nos filmes antigos de Hollywood, um galante bonitão, que dedilha, seu teclado no front, imperturbável, enquanto balas silvam sobre sua cabeça?
Pois bem, não é isso. Em compensação, foram correspondentes de guerra até mesmo J. A. Daugherty, do Louisville Journal, e William Furay, daCincinNatti Gazette, que, durante a Guerra Civil americana (1860-1865), sofreram um desastre de trem ao voltar de um combate – e se surpreenderam às apalpadelas no escuro, um tentando roubar as anotações do outro, que julgava morto. Eram também correspondentes de guerra os jornalistas americanos que, na Guerra da Coreia (1950-1953), desinibidamente proclamavam, pistola à cinta, sua gana de “pegar um china”. Felizmente para a classe, foi ainda um colega de profissão – Reginald Thompson, do britânico The Daily Telegraph – quem passou aos leitores barbaridades como essa.
Phillip Knightley, jornalista do The Times e do The Sunday Times de Londres à época do lançamento de A Primeira Vítima, em 1975, lança-se aqui à tão corajosa como árdua empreitada de avaliar o trabalho dos colegas de profissão que cobriram duas dezenas de guerras, desde a da Criméia, que opôs a Grã-Bretanha à Rússia entre 1854 e 1856, até a do Vietnã (1965-1975) – passando pelas duas mundiais, a Primeira (1914-1918) e a Segunda (1939-1945).
DEVASTADOR E FASCINANTE — O título vem da epígrafe – uma citação feita em 1917 pelo senador americano Hiram W. Johnson, da Califórnia, republicano, depois um dos fundadores do desaparecido Partido Progressista, conhecido isolacionista: “A primeira vítima, quando começa a guerra, é a verdade”.
Para concluir o livro, Knightley realizou um infernal trabalho de pesquisa, que incluiu o mergulho nos 2 milhões de recortes de jornais do departamento de pesquisa do The Sunday Times (estávamos, é claro, na era pré-informática), incontáveis dias de consulta a coleções de revistas e jornais velhos, a leitura de dezenas de livros especializados e entrevistas pessoais com dezenas de ex-correspondentes de guerra.
Também trocou cartas com diversos deles que não puderam ser contatados pessoalmente, sem contar a digestão de quilômetros de documentários de guerra de todo tipo. O resultado é devastador, em muitos sentidos – e fascinante, em todos".
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